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sexta-feira, 3 de maio de 1996

Nas ilhas da bruma ... quando pela primeira vez subi o Pico

Com base no grupo de alunos que tinham ido ao Alvão, Montesinho, MéridaPirenéus ... em Abril de 1996 "lançámo-nos" no Atlântico! Nove dias em S. Miguel, Terceira, Faial e Pico! Numa organização fundamentalmente do colega de História, a equipa de "profs" era quase a habitual; só a minha "colega especial", nessa altura com medo dos aviões, foi substituída por outra professora de Biologia.
Costa norte de S. Miguel, 26.04.1996 - Grande parte do grupo
Assim, no dia 24 de Abril estávamos a partir da Portela, rumo a Ponta Delgada. A ilha de S. Miguel era o primeiro destino ... e para muitos era também o baptismo de voo.
Em Ponta Delgada ficámos alojados ... no quartel! E os dois dias e meio seguintes foram dedicados à maior ilha dos Açores, a "ilha verde". Em terras açoreanas, diz-se que o S. Pedro nos manda as 4 estações num dia ... e testemunhámos bem isso. Chuva, nevoeiro, Sol, frio, calor ... tivemos de tudo um pouco.
Com a colaboração da Câmara de Ponta Delgada, percorremos praticamente toda a ilha, das Sete Cidades ao Nordeste, da Lagoa do Fogo à Caldeira Velha e às Furnas ... onde comemos o seu típico e "aromatizado" cozido.
Mas se o quartel de Ponta Delgada foi ponto de "recolha" ... também o foi de convívio, camaradagem, brincadeiras. E dia 27 voávamos para a Terceira ... onde nos esperava um "Hotel" de 5 estrelas!
Lagoa das Sete Cidades, 26.04.1996
Pousada de Juventude de
Angra do Heroísmo, 29.04.1996
A Pousada de Juventude de Angra do Heroísmo era, de certeza, uma das melhores então existentes, num paraíso à beira mar. E na Terceira tivemos a colaboração da Câmara de Praia da Vitória, que nos proporcionou a visita aos principais atractivos da ilha. Desde a bela cidade de Angra do Heroísmo, património mundial, ao Museu do Vinho e às piscinas naturais dos Biscoitos, ao Algar do Carvão, a praticamente toda a costa da ilha e à cidade de  Praia  da  Vitória,  a ilha Terceira deixou também belas recordações.
Seguia-se o Faial. O voo Terceira - Faial foi o mais bonito, sobrevoando S. Jorge e quase sempre com o Pico do Pico à vista. A montanha chamava-nos para a grande aventura...! A Caldeira do Faial e, claro, a zona dos Capelinhos, foram os principais atractivos. A aridez dos Capelinhos, passados quase 40 anos das grandes erupções, testemunha o que foi a violência daquele  fenómeno  vulcânico.  A  cidade  da  Horta
Horta, Faial, 30.04.1996: o Pico chama-nos...
ficaria para depois do regresso do Pico.
E no último dia de Abril, à noite, na Horta ... "namorávamos" a montanha que nos chamava do outro lado do canal. De vez em quando soltava-se uma nuvem fumegante. Quando o Pico "fumega" ... é bom sinal. Por isso, no dia seguinte de manhã, cruzávamos o canal do Pico; uma travessia um pouco épica, tanto pelo revoltado do mar ... como pelos que pregaram com a cabeça na trave de entrada da lancha...J!
As nossas instalações no Pico foram as mais "confortáveis" de todas...; o ginásio de um colégio e os colchões da ginástica...J! E o primeiro dia no Pico ... foi de uma longa espera por essas instalações (não tinha havido comunicação da nossa chegada...) ... e também pela clemência do tempo, para a subida ao Pico. É também neste dia de espera que me dirijo à caixa Multibanco da Madalena do Pico e leio a informação de que está fora de serviço; como habitualmente, "Dirija-se ao Multibanco mais próximo" ... no Faial...J!
Só dia 2 de Maio, portanto, com os nomes registados na Protecção Civil e acompanhados por dois guias especializados de montanha ... partíamos em direcção ao topo de Portugal! Num "confortável" transporte de carga, fomos da Madalena até à base do trilho, a 1200m de altitude. Tínhamos, portanto ... 1150 metros de desnível para subir ... em menos de 5km; inclinação média ... de quase 25%!
Não sendo uma aventura, nem sequer propriamente uma escalada, subir a montanha do Pico vale, só por si, uma ida aos Açores. Mas requer um bom treino de pedestrianismo e boa preparação física. A "selecção" de quem ia ou não à "aventura" foi feita pelos próprios, de acordo também com os conselhos dos guias de montanha, em reunião prévia connosco, na véspera. E, dos 30 que se inscreveram para subir ... houve várias baixas, com desistências nos troços mais inclinados. A neve começou a acompanhar-nos por volta dos 1700 metros, bem como o nevoeiro quase sempre persistente. A esperança de irmos ter boa visibilidade era pouca...! Quase três horas depois, contudo, atingíamos o bordo da cratera principal, a 2200m ...  e eis que  os céus se abrem num esplendoroso azul, para nos deixar ver o Piquinho,  o  espigão
Cume do Pico, 2351m alt., 2.05.1996
de lava que culmina aquela montanha mágica ... e que lá continuava a fumegar de vez em quando. Para lá chegar, é preciso descer ao interior da cratera principal, para voltar a subir a íngreme ladeira do cone vulcânico. Almoçados ... lançámo-nos então à conquista dessa última etapa ... e poucos minutos antes do meio dia estávamos a 2351 metros de altitude, no cume da montanha mais alta de Portugal! É uma sensação de êxtase e de contemplação, de entrega! No reduzido espaço à volta da pequena "torre" que encima o Piquinho, parecia podermos abraçar toda a ilha e o mar em redor. A visibilidade havia diminuído de novo, mas percebia-se o litoral de S. Jorge e, com algum esforço e "imaginação", a Terceira. Depois ... depois havia que regressar ... e o regresso foi quase permanentemente debaixo de chuva, por vezes copiosa! A descida não é menos épica do que a subida, mas é bem menos demorada: 4 horas para subir ... e menos de duas para descer. Continuando já no transporte de carga debaixo de chuva ... de repente vemo-nos a sair das nuvens e a chegar à Madalena do Pico ... onde estava um bonito dia do Sol e até de algum calor! A roupa secou rapidamente! Realmente os Açores são um álbum meteorológico.
A meio da tarde estávamos de regresso ao Faial. O Pico ficava para trás ... à espera de um dia lá voltar. De novo no Faial, o último dia desta jornada açoreana foi dedicado à cidade da Horta. A marina - célebre em todo o mundo do yachting - e o celebérrimo Peter Café Sport foram os principais pontos de visita, convívio ... e despedida. Nessa altura ... o pai Peter era ainda vivo e lá o cumprimentámos no seu apaixonado posto.
E ao início da tarde daquele dia 3 de Maio de 1996 ... estávamos a voar de regresso a Lisboa! A nossa "equipa" tinha pela primeira vez levado os alunos às ilhas atlânticas ... às ilhas da bruma.
29 de Março de 2011

S. Miguel
Terceira
Faial
Pico e regresso