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sábado, 14 de agosto de 2004

No paraíso de Somiedo e das terras de Narcea e de Ibias

A 3 de Agosto de 2004, partia com a minha "parceira" ... para o paraíso de Somiedo. Agora sem autocaravana, fomos conhecer o turismo rural nas Astúrias ... e concluímos que é bem mais barato do que em Portugal. Depois de uma breve "escala" em Vale de Espinho, para ver as obras da casa, Zamora e a já bem conhecida auto-estrada del Huerna ... conduziram-nos ao paraíso no sudoeste das Astúrias.

En cada rincón de Asturias hay un pedazo de paraíso: un arroyo que desaparece en las entrañas de la tierra, una casa que se alza para dejar crecer la yerba, un bosque habitado por los últimos y filosóficos duendes, o una montaña que quebra el cielo para adornarse con su envés blanco.

Luis Frechilla García, "Por la Naturaleza Asturiana"
Na ruralidade de Villar de Vildas, 4.08.2004

Ao fim da tarde estávamos em Pola de Somiedo ... mas o nosso destino era Villar de Vildas, no vale do Pigueña, onde tínhamos estado em Abril de 2000, com os alunos. Villar de Vildas tinha ganho recentemente o prémio Príncipe de Astúrias, como pueblo ejemplar. E tínhamos à nossa espera uma típica casa rural, "La Corte", excelentemente transformada para turismo rural, decorada com recordações de um passado de trabalho e de lavoura. Pena foi que a minha parceira tenha estado "desarranjada",
alegadamente devido à pureza extrema da água bebida nas fontes,  pelo menos  segundo o  farma-
cêutico de Belmonte de Miranda, onde fomos.
Peña Michu, Cordal de la Mesa, 5.08.2004
No dia 5, não sendo aconselhável fazer uma caminhada sem estar completamente bem, a minha fada optou por ficar no conforto da "Corte" de Villar de Vildas ... e eu parti à "aventura". De novo por Aguasmestas e La Riera, deixei o carro junto à velha ponte ... e comecei a subida a pé ao Puerto de San Lorenzo. Mas passado pouco tempo ... surgiu uma boleia providencial, que antes das 9 da manhã de um esplendoroso dia de Sol me deixou naquele ponto, entre Somiedo e Teverga. Ia fazer, sozinho, parte do Cordal de la Mesa, a cumeada entre as duas comarcas, para depois descer a Saliencia. Logo se veria como voltava a La Riera e ao carro; podia ser que o amigo Roberto, do Albergue de Saliencia, me arranjasse transporte ... e arranjou...J!
O Camín Real de La Mesa é uma das caminhadas mais míticas de Somiedo. De origem pré-romana, este caminho terá funcionado mais tarde como prolongamento até ao mar da Via de la Plata, desde Asturica Augusta (Astorga), sendo uma das mais emblemáticas vias antigas que cruzam a Cordilheira Cantábrica.
Uma hora depois de partir, estava já próximo dos 1700 metros de altitude, aos pés do Peña Michu e sobre o vale de Villarín e do rio Saliencia, a sul, e as terras de Teverga, a norte. Que espectáculo de panorâmicas se me ofereciam, para ambos os lados. Que comunhão com o verde dos prados de altitude, com o azul do céu. Eu falava com toda aquela Natureza, com as vacas pachorrentas dos prados de Piedraxueves ou de La Magdalena, com a história que parecia brotar dos teitos, nas brañas de La Corra ou de La
Desfiladeiro de Los Arroxus,
Saliencia, 5.08.2004
Mesa
. No alto de La Magdalena, estava acima das Morteras de Saliencia, onde havia estado com os alunos, em brincadeiras na neve, no fim da semana mágica de 2000.
E assim, descendo o espectacular desfiladeiro de Los Arroxus, antes das quatro da tarde estava em Saliencia. O meu "velho" amigo Roberto ficou admirado de me ver; explicada a minha caminhada ... logo me arranjou transporte para La Riera ... com o padeiro...J!

No dia seguinte ... mais uma caminhada solitária. A partir de Villar de Vildas, a ideia era fazer a já conhecida Ruta de La Pornacal, mas continuá-la até à braña vaqueira de La Peral, pela Braña de los Cuartos e o Collado de La Enfistiella. Mas o estudo das cartas também me falava da Sierra del Páramo e das suas lagoas glaciárias de altitude.
Assim, aquele dia 6 de Agosto foi o de uma jornada superior a 25 km,
subindo o curso do Pigueña até à base do vale de Cereizales, passando portanto pela Pornacal e pela Braña de los Cuartos, também chamada a Braña Viella, uma das mais antigas brãnas somedanas. Sentia-me num mundo distante, ao mesmo tempo puro e selvagem ... o meu mundo!
Subindo o Collado de La Enfistiella, os horizontes abriram-se. A sul estava o Cornón, imponente, o ponto mais alto de Somiedo, nos seus quase 2200 metros de altitude. Para noroeste estendia-se o vale do Pigueña, de onde viera; a nascente, o vale do Trabanco ... e lá estava La Peral, lá ao fundo, próxima já da estrada do Puerto de Somiedo. E à minha frente, para norte, a Sierra del Páramo, dividindo o vale do Pigueña do vale de Somiedo.
As Lagunas del Páramo são três: Chamazo, Redonda e Cabera, ao longo da cumeada, de onde se têm espectaculares panorâmicas para o vale do Pigueña. Ainda procurei a possibilidade de descer directamente da Laguna Cabera para Villar de Vildas, mas a inclinação e a densidade da vegetação não o aconselhavam. E foi nessa pesquisa, no meio de denso arvoredo ... que rapidamente vi passar um veado fugidio, certamente admirado com a minha presença naquelas paragens! O fim da tarde ameaçava tormenta ... aconselhando o regresso, que portanto repetiu basicamente o mesmo caminho.
Villar de Vildas e estas duas fabulosas caminhadas tinham-me revelado mais umas fantásticas imagens ... da minha terceira "terra natal"!
Percurso do Cordal de La Mesa, 5.08.2004
Percurso das Lagunas del Páramo, 6.08.2004
Depois destas duas espectaculares jornadas nos montes de Somiedo, no dia 7 partimos para o extremo ocidente das Astúrias, para terras de Cangas de Narcea e de Ibias.  A  ideia era  ir conhecer  outro  lugar
mítico da Natureza, no paraíso natural asturiano: o bosque de Muniellos, um dos carvalhais melhor conservados da Europa, declarado pela Unesco Reserva da Biosfera. Por Belmonte de Miranda, fomos ao encontro do rio Narcea, que descemos até Cangas e à pequena aldeia de Moal, às portas de Muniellos, onde tínhamos também uma casa rural à espera. Mas, embora portadores da necessária autorização para visitar Muniellos, um protesto dos mineiros de Cangas de Narcea impedia afinal as visitas ... alterando-nos os planos para aqueles dias. Muniellos teria de continuar a guardar os seus segredos, que aliás continua a guardar, já que ainda lá não voltei.
2 duendes do bosque de Moal...J, 13.08.2004
Assim, os dias em Moal foram ocupados com passeios pela região ... e com duas caminhadas, na Sierra del Pando e no Bosque de Moal. De carro, fomos conhecer Ibias e a serra de Luiña e de Tormaleo, paredes meias com os Ancares leoneses e galegos. Pelo Puerto de Rañadoiro, fomos a Monasterio de Hermo e às fuentes do Narcea. Por todo o lado, o verde, a água, a magia dos bosques e das montanhas asturianas.
Percurso da Sierra del Pando, 11.08.2004
Percurso do Bosque de Moal, 13.08.2004
E assim, 11 dias depois de termos saído de Vale de Espinho ... estávamos em Vale de Espinho, regressados desta "andaina" por terras do paraíso.
 
14 de Junho de 2011