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terça-feira, 15 de abril de 2003

Uma "aventura" no Arquipélago da Madeira

No ano lectivo 2002 / 2003, o grupo de alunos que havia ido ao Gerês, aos Picos de Europa e a Somiedo estava, maioritariamente, no 12º ano. Que "aventura" lhes reservaria para o último ano de estudos secundários?... Por duas vezes tínhamos levado alunos aos Açores; então ... e a Madeira? Fermentado já no ano anterior, o projecto começou em organização logo em Setembro/Outubro, para partirmos a 8 de Abril.
A equipa de "profs" era a mesma que tinha acompanhado o grupo "açoriano" em 2000. Mas esta viagem teve, para mim, a amargura de ter partido ... com a incredulidade do desfecho da dramática situação do meu saudoso sogro ... reinternado na véspera da minha partida! Em fase terminal ... ele pareceu contudo esperar pelo meu regresso e o do seu neto mais novo, meu filho, igualmente com uma viagem marcada e organizada. Lutando pela vida, como toda a vida o havia feito, nunca se referiu aliás à morte...

Às seis da manhã do dia 8 de Abril,  os 26 alunos e 5 professores encontravam-se no Aeroporto da Portela;
Eira do Serrado, sobre o Curral das Freiras, 8.04.2003
pouco depois das nove estávamos na Madeira. O plano desta viagem decorreu de forma um pouco diferente do inicialmente previsto, dado que o S. Pedro esteve desta vez um pouco zangado...J. Esperava-nos o autocarro da Câmara Municipal do Funchal, para uma visita genérica à ilha. Pelas novas estradas que nos últimos anos têm rasgado a Madeira, passámos próximo do Funchal, em direcção ao primeiro ponto de visita, a Eira do Serrado, miradouro sobre o famoso Curral das Freiras, pequena vila rodeada por enormes montanhas, no coração da ilha. O caldeirão onde assenta esta vila foi formado ou pela erosão, ou, como muitos acreditam, por actividade vulcânica. Em 1566, as freiras do Convento de Santa Clara, ao fugir de piratas que atacavam o Funchal, encontraram aqui refúgio, levando consigo o tesouro do convento.



Seguiu-se uma visita à Ribeira Brava, pequena vila na costa sudoeste da ilha, ilha que a seguir cruzámos
Porto Moniz, 8.04.2003
no sentido sudoeste-noroeste, pelos novos túneis de acesso a S. Vicente, já na costa norte. Na extremidade da vila, parámos mesmo junto ao mar e ao grande rochedo onde foi construída a Capela de S. Vicente. Mar que depois acompanhámos na fantástica estrada litoral até Porto Moniz, onde as piscinas naturais são, naturalmente, a principal atracção. No regresso, subimos a estrada em direcção ao Paul da Serra, pela Fonte da Pedra e Rabaçal. O denso nevoeiro escondeu-nos contudo as fantásticas panorâmicas que noutras alturas daqui se avistam sobre a cordilheira central e a costa, no único grande planalto existente na Madeira.
A meio da tarde estávamos na Encumeada, a mais de 1.000 metros
Cabo Girão, 8.04.2003
de altitude - agora sim com uma excelente vista para a cordilheira central da ilha - e a visita terminou com uma visita ao Cabo Girão, de novo na costa sul, o promontório mais alto da Europa e o segundo do Mundo; dalguns dos pontos mais elevados e salientes daquela gigantesca escarpa vêm-se as vagas do oceano quebrarem-se 600 metros abaixo, no sopé da aprumada rocha.
Às 18:30h ... assentámos praça no RG3, o Regimento de Guarnição n.º 3, na freguesia de S. Martinho, Funchal, que nos esperava para o alojamento em 6 das 7 noites passadas na viagem. À noite, fizemos a primeira incursão à capital madeirense.

4ª feira, 9 de Abril. O autocarro leva-nos ao Parque Florestal do Ribeiro Frio, acompanhados por um guia da Câmara Municipal. Começámos por uma visita ao viveiro de trutas ali existente,  seguindo-se o percurso pedestre até  ao  Miradouro dos Balcões,
Miradouro dos Balcões, sobre a cordilheira central, 9.04.2003
de onde contemplámos a esplêndida panorâmica sobre o belo vale da Ribeira da Metade e a cordilheira central da ilha. Regressando ao Ribeiro Frio, seguiu-se o percurso pedestre Ribeiro Frio - Portela, ao longo da levada da Serra do Faial, numa extensão de cerca de 10 quilómetros.
As levadas foram introduzidas pelos primeiros povoadores da Madeira, para o transporte da água até às suas terras. Não são exclusivas da Madeira, mas o que é único é a sua acessibilidade e extensão. Os primeiros 8 km do percurso foram em plano, desde o Ribeiro Frio até à casa de divisão das águas, e nos restantes 2 km descemos até ao miradouro da Portela. A esta altitude os nevoeiros e as chuvas são frequentes, conforme aliás comprovámos, já que grande parte do caminho foi feito debaixo de uma chuva miudinha. Ao longo da levada é possível descobrir, por entre os multivariados tons de verde da floresta, delicadas flores brotando de pequenas plantas que gostam de viver em ambiente de forte humidade e fraca luminosidade.
Ao longo da levada Ribeiro Frio / Portela, 9.04.2003
Ao longo da levada Ribeiro Frio / Portela, 9.04.2003
Nesta viagem pelo interior de uma Natureza purificadora, é por vezes possível avistar o bisbis, o mais pequeno dos pássaros que povoam a Madeira, a saltitar de um ramo para outro à procura de larvas e insectos; o melro preto também por aqui aparece à procura de bagas e de pequenos bichos, alegrando o ambiente com o seu canto forte e melodioso.
Quando o nevoeiro o permitia, nalguns cotovios da levada, pudemos observar a paisagem para além da floresta: são surpreendentes os campos do Faial, São Roque do Faial e Porto da Cruz, na costa nordeste, com o casario disperso nas achadas; a enorme asa rochosa da Penha de Águia avança com audácia sobre o poderoso Atlântico e protege a oriente a baía do Faial, enquanto a ocidente a Ponta dos Clérigos faz o que pode para evitar o embate a noroeste.
Chegados à Portela, fim da caminhada, partimos de novo no autocarro para o extremo oriental da Madeira,
Ponta de S. Lourenço, 9.04.2003
a zona do Machico e da Ponta de S. Lourenço, Reserva Natural desde 1982. A vegetação da Ponta de São Lourenço é especial e única dentro da Macaronésia, não por estar ainda inalterada, mas devido à presença de grupos importantes que estão virtualmente confinados a esta área. Para além da vegetação, esta reserva é o lar de muitas espécies de aves e até de alguns lobos marinhos, que aqui são vistos ocasionalmente.
Nos dois dias seguintes ... havia uma "aventura": uma viagem às ilhas Desertas, em veleiro! Contratados previamente os serviços do "Ventura do Mar", acontece que a lotação do veleiro é de apenas 18 pessoas, pelo que, naqueles dois dias, enquanto metade do grupo se deslocou às Desertas, os restantes estiveram em visita à capital madeirense, onde o teleférico do Monte foi uma das atracções, permitindo uma panorâmica deslumbrante sobre o anfiteatro do Funchal e do porto. Alguns ... quiseram participar nas famosíssimas corridas dos carrinhos do Monte! Outros pontos de interesse foram a estátua de Gonçalves Zarco, a Sé, toda a zona antiga.


Quanto às Desertas ... às 9 horas estávamos a partir no “Ventura do Mar”, acompanhados e guiados pelos nossos 'skippers' Filipe e Susana. As Ilhas Desertas são três ilhéus (Ilhéu Chão, Deserta Grande e Bugio) situados a sudeste da Madeira, no prolongamento para sul da Ponta de São Lourenço. De origem vulcânica, na constituição geológica das Desertas predominam as cinzas de cor avermelhada e amarelada. As Desertas constituem um dos últimos redutos do lobo-marinho, ali residindo uma colónia estimada em 23 animais que se encontra em recuperação populacional. É também um importante centro de nidificação de aves marinhas, tais como a cagarra e a rara freira do Bugio, esta última com uma distribuição mundial que se restringe à Ilha do Bugio e a Cabo Verde.
A bordo do "Ventura do Mar", 10.04.2003; por enquanto ainda estava tudo bem disposto...
... mas já nem tanto...
A skipper Susana..., 10.04.2003
... e o "comandante" Filipe Alves, 10.04.2003
Ancorados ao largo da Deserta Grande, 10.04.2003
Desembarque ..., 10.04.2003
Na Deserta Grande, 10.04.2003
E até vemos golfinhos, 10.04.2003
A viagem até à Deserta Grande foi de cerca de 3 horas e meia, com tempo suficiente para uma pequena visita exploratória mas também para almoçar e, até, para nadar! O pior foi o regresso...! No dia 10, a viagem de regresso levou quase 5 horas ... e no dia 11 levámos o melhor de 6 horas e meia, entrando no porto do Funchal já noite cerrada, às 21,30h! A culpa foi dos ventos e ondulação fortes que se faziam sentir e que prognosticavam já a tempestade que no dia seguinte assolaria os Açores. A maior parte do grupo enjoou bastante; o nome Ivan ficará para sempre gravado na memória do skipper Filipe Alves ... vá-se lá saber porquê...J! No dia 11 estivemos aliás na eminência de ter de aportar ao Machico e regressar ao Funchal de autocarro, mas o Filipe e a Susana lá levaram depois o "Ventura do Mar" rentinho à costa madeirense, até ao Funchal, para fugir à ondulação. Foi uma "aventura"...!

Sábado, 12 de Abril, era suposto ser dedicado à "conquista dos céus" da Madeira. Subiríamos de autocarro ao Pico do Areeiro, para depois fazermos o percurso pedestre Pico do Areeiro - Pico Ruivo; a vereda tem uma extensão de cerca de 6 Km e tem início junto à Pousada do Pico do Areeiro. A meteorologia não nos permitiu contudo concretizar esta parte do programa: a tarde de sábado e a noite de sábado para domingo (em que dormiríamos na casa-abrigo do Pico Ruivo) foram de violento temporal, que aliás nos Açores assolou várias ilhas, com prejuízos materiais diversos. Assim, o programa foi redefinido em conjunto com o motorista do autocarro que a Câmara Municipal de Câmara de Lobos tinha de qualquer modo ao nosso dispor, começando precisamente por aquela vila piscatória.
Câmara de Lobos, 12.04.2003
Seguiu-se um circuito pela costa sudoeste da ilha, normalmente a menos batida pelas tempestades, mas onde mesmo assim o nevoeiro e a chuva pouco nos deixaram ver. Fizemos uma curta visita à Ponta do Sol e às vilas de Madalena do Mar e Calheta; nesta última, visitámos o seu original engenho de mel de cana de açúcar. Mas como a meteorologia não proporcionava melhor tarde (antes pelo contrário) ... a única hipótese foi mesmo o regresso ao Funchal. A noite que supostamente seria passada no Pico Ruivo ... acabou por ser passada pela maior parte do grupo nas discotecas do Funchal...J.
A Penha de Águia, entre Faial e Santana, 13.04.2003
Na manhã de domingo, seria a descida a pé Pico Ruivo - Santana (cerca de 11 Km), primeiro em direcção à Achada do Teixeira, depois sobre terras de Santana e Faial. A alteração a que a meteorologia nos obrigou levou-nos, contudo, a ter uma manhã de domingo livre, usada pela maior parte do grupo para pôr os sonos em dia. Visitámos depois Santana, onde terminaríamos o percurso a pé. Entre o Faial e Santana, a paisagem é espectacular, com a imponente Penha de Águia como pano de fundo; felizmente que o tempo começava já a melhorar. De regresso ao Funchal, fizemos ainda uma pequena visita à Camacha, centro da indústria de vime Madeirense. Hoje em dia, fabricam móveis, chapéus, ornamentos, utensílios de cozinha, e claro ... cestos de todos os tamanhos e feitios.


14 de Abril. Antes das sete da manhã estamos no cais de embarque da "Porto Santo Line". Vamos partir para a ilha dourada, no navio "Lobo Marinho". Alguns enjoos, mas às 11:30h desembarcamos em Porto Santo, a 40 Km da Madeira. Em Porto Santo, recebeu-nos o Destacamento local do RG3, onde arrumámos as bagagens e almoçámos, para da parte da tarde visitarmos a ilha, começando pela costa sul, em direcção à Ponta da Calheta, frente ao ilhéu da Cal. Seguiu-se uma passagem junto ao Pico de Ana Ferreira, com as suas formações geológicas resultantes da disjunção colunar do basalto. Já na parte oriental da ilha, o miradouro da Portela proporcionou-nos uma espectacular vista sobre Vila Baleira, a capital da ilha, e sobre a praia. A paisagem de Porto Santo é caracterizada pelo aparecimento, aqui e ali, dos tradicionais moinhos de vento, que surgiram para a moagem de cereais necessária ao fabrico do pão.
Chegamos a Porto Santo, 14.04.2003
Percurso pedestre dos Picos do Castelo, Facho, Gandaia e Juliana, Porto Santo, 14.04.2003
Seguiu-se a zona da Serra de Fora e a ponta do Calhau, na costa leste, contornando depois a ilha pelo nordeste, pela Serra de Dentro e Pedregal. O autocarro deixou-nos então na base do Pico do Castelo, a partir do qual efectuámos um percurso pedestre de cerca de 8 km chamado a vereda de El-Rei. Do cimo do Pico do Castelo desfrutamos um horizonte visual bastante amplo, que nos permite apreender com alguma facilidade a morfologia da ilha: dois grupos vulcânicos separados por uma área baixa onde se estende o aeroporto; o Pico do Castelo pertence ao conjunto de aparelhos vulcânicos principais que ocupa o nordeste e o leste da ilha; do cimo deste pico compreende-se facilmente a enorme diferença entre as costas norte e oriental - altas, escarpadas e com muitos recortes - e a extensa praia de areia que ocupa quase todo o litoral sul. O percurso contornou o Pico do Facho pelo lado sul; ainda no rebordo do Facho, a vereda oferece uma série de vistas espectaculares das partes central e ocidental. A pouco e pouco, aproximámo-nos do Pico Juliana, que prende a atenção pelas colunas prismáticas que apresentam os seus basaltos.
Já pela estrada norte/sul, regressámos ao 'nosso' RG3, na parte alta de Vila Baleira. Ao fim da tarde viemos à cidade/vila, onde aliás jantámos e nos divertimos ainda no Bar/Pub "Zarco".
O último dia passava-se e filmava-se na praia de Porto Santo...
...gozando a areia dourada, 15.04.2003


Toda a manhã do dia 15 foi dedicada à magnífica praia do Porto Santo; a areia e as águas cálidas e transparentes esperavam por nós ... e até houve um "treino militar"...J! Mas a "aventura" estava a acabar: às 16,30h partíamos no voo TP4777 do Porto Santo de regresso à Madeira; apenas 20 minutos de voo, num pequeno avião da AeroCondor.
A bordo do AeroCondor para a Madeira, 15.04.2003
Os 5 "profs" de quem os alunos andaram 8 dias a tomar conta...J
E de novo na Madeira, a aguardar a ligação para Lisboa. Era o fim da "aventura".
Após um intervalo de cerca de duas horas, partimos no voo TP 1642 de regresso a Lisboa ... e ao fim desta semana de "aventuras" nas ilhas do Arquipélago da Madeira. Faltaram as Selvagens ... que são mais próximas das Canárias do que da Madeira. Mas ficaram as recordações...

“Foram os sete dias mais incríveis, espectaculares e sem dúvida inesquecíveis. Cheirei ar puro, saboreei maravilhosas comidas regionais; vi magníficas paisagens, mar, terra, animais...; ouvi lindas ondas a rebentarem e vivi momentos nunca mais esquecidos. É claro que os profs foram espectaculares, cuidadosos,5 estrelas. Sem dúvida que só ficaram boas recordações.”
Dídia Duarte

“O Paraíso não é feito apenas pela beleza da natureza, mas é também feito pelas excelentes pessoas que nos rodeiam. Por este facto posso afirmar que estive uma semana no Paraíso.”
Ricardo Santos

“Esta viagem foi, é e será sempre inesquecível (temos pena, já acabou). A Madeira e "arredores" superaram as minhas expectativas”
Nuno Lopes

“Adorei a simpatia dos professores, o convívio entre o grupo e os passeios pedestres ao lado da Natureza! Grande viagem, grande ilha, um destino a repetir!”
Filipe Coelho
"Um destino a repetir" ... mas não se repetiu. Nem este nem outros. Exceptuando duas pequenas visitas na Serra d'Aire e Caparica, esta foi a última actividade que realizei com alunos, fora das paredes da Escola. Ao longo de 26 anos, tinham sido 57 visitas e actividades de campo, das quais 40 com uma duração entre 2 e 10 dias, que mobilizaram perto de dois milhares de alunos, do 7º ao 12º anos de escolaridade. No ano lectivo de 2003 / 2004 ... começaria o princípio do fim do ensino como eu o conhecia...

Fotos: Telo Ferreira Canhão
Mais fotos desta viagem, da autoria de Filipe Coelho
31 de Maio de 2011

5 comentários:

Patrícia_tixica Fernandes disse...

Oh Prof. Callixto fez me recordar agora tão bons momentos :) Guardo as suas viagens na melhor das lembranças e com sabor a repetir :)
obrigada por tudo :)

MANUEL JOÃO disse...

Uma ótima reportagem sobre as ilhas da Madeira e Porto Santo.
Conheço bem os locais, pena foi que o tempo não estivesse de feição para a visita aos picos do areeiro e ruivo e a respectiva caminhada.
Parabéns e um abraço

Telo disse...

Da segunda metade da década de oitenta do século passado até 2003, em variadas visitas de estudo e com diversos grupos de alunos, ou em viagens de autocaravana com a família e amigos, eu estive lá. Sou o «colega de História» que aparece aqui e ali nos filmes e fotos que o Zé Callixto tem vindo a publicar no seu blogue. Telo Ferreira Canhão é o meu nome, o tal Canhão para «aumentar a confusão», segundo palavras bem animadas de um excelente grupo de alunos em visita de estudo a Doñana, no longínquo ano de 1990. Será bom também lembrar outros nomes. Com o professor de Português e Literatura Luís Boavida completava-se o nosso trio masculino, sempre unido e pronto para mais uma viagem de estudo. Mas não podemos pôr de lado a Eulália Callixto, de Biologia, e a Teresa Gomes, de Inglês, as mais assíduas. Lembro ainda a companhia de outras colegas entre as quais destaco a Isabel Guardado, do 5º grupo, a Ana Soeiro, de Biologia ou a Graça Brandão, de História. As nossas viagens familiares foram maravilhosas (muitas vezes cansativas!) e não as incluo neste comentário. O que me interessa aqui é pôr em relevo o nosso trabalho com a juventude de Sacavém e arredores. Levámos alunos do Norte de Portugal (Gerês e Montezinho) a Sul (Costa Vicentina), sem esquecer o centro (Tapada de Mafra, Estuário do Tejo, Berlengas, Dunas de S. Jacinto ou Serra da Estrela), em excelentes organizações quase exclusivamente desenvolvidas pelo Zé Callixto (também o levei a Mérida, por exemplo). É evidente que eu levava o meu papel de «acompanhante» muito a sério, cumprindo a minha parte e tentando ensinar e aprender o máximo possível com todos os presentes, alunos e professores. Alargando horizontes passámos a Espanha, também de Norte (Picos da Europa) ao Sul (Doñana) e ao Este (Pirenéus). Um dia lembrei-me: «Falta o Portugal insular! Açores e Madeira.» O Zé não estava inicialmente para aí virado e, com o que tinha aprendido com ele, eu atirei-me à organização desta viagem. Depois ele voltou lá com novo grupo de alunos e, desfeita a falta de vontade, quando lhe tornei a falar da Madeira já não houve problemas e dividimos as tarefas organizativas. Mas o forte destas visitas de estudo eram os grupos de alunos que se reuniam naquele tempo. Sem qualquer excepção eram miúdos e miúdas fantásticos: simpáticos, educados, cumpridores (ainda hoje me impressiono ao lembrar que quando havia algum tempo livre e se marcava um local e uma hora de encontro, em trinta ou mais pessoas nenhuma falhava!), respeitadores, conhecedores do seu lugar «na hierarquia», divertidos, animados… Por isto tudo era fácil «esquecer» a nossa posição de professores e adultos, e acamaradar com eles como se fossemos alunos também. Havia grande empatia entre todos. Por mais de uma vez que os olhos se me encheram de lágrimas ao ler, ouvir ou ver determinadas passagens do blogue do Zé! Fossem grupos de Ciências, de Humanidades ou mistos, tudo era sempre o mesmo: muito bom. Dava um imenso prazer desenvolver estas aulas, sim porque é de aulas que estamos a falar. Diferentes, ao ar livre, mas aulas. Não passávamos pelos monumentos, naturais ou construídos, sem os apresentar e responder às diversas questões dos alunos! Mas 2003 até já parece ser «a pré-história da nossa existência»! Este ensino já não existe. Pior. Estes alunos já não existem. Até os mais fracos e contrariados, que também havia, procuravam aprender! É verdade que nem os programas que eles foram obrigados a estudar, existem! Cada vez que me lembro o que tinha que exigir às turmas nos primeiros anos em que regressaram os exames pós 25 de Abril de 74, fico estupefacto comigo mesmo! Mas também esses são os únicos que, quando ainda hoje se cruzam comigo, reconhecem que o nosso esforço lhes foi utilíssimo para os seus cursos superiores e para a sua própria vida profissional! Os desse tempo estão, na maioria, bem. A todos abraço com saudade. Cada dia que passa ensino é uma palavra cada vez mais vazia de significado. Zé, grandes alunos aqueles!

José Carlos Callixto disse...

Essa "pré-história da nossa existência" já lá vai, realmente. Esse ensino já não existe. Pior ... o ensino já não existe! Este longo e sentido comentário aparece na onda de um dos próximos posts do meu blog, a que chamarei "O princípio do fim do 'meu' ensino". O vazio de significado em que se transformou essa palavra foi a razão do meu abandono antecipado de uma carreira que abracei por paixão ... antes que a paixão se transformasse em ódio.
Obrigado, Telo, por este sentido comentário, pela companhia, pela amizade, pela partilha de "aventuras"!

Nuno Lopes disse...

Aonde estão os "likes"? Pois isto não é o facebook...
Inesquecíveis viagens que nos ficarão marcadas para o resto da vida.
(E depois temos fotografias que nos ficam também para sempre na memória :) nem que seja a de ver o Ivan a acordar! :D )
Uma pena não terem havido mais viagens do Clube amigos da natureza, ou pior... a extinção do mesmo.
A vida tem destas coisas, ao menos não esqueceremos tudo o que aprendemos :)
Um enorme abraço.