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sexta-feira, 14 de abril de 2000

No paraíso de Somiedo ... no fim de uma semana mágica!

Após dois dias nos valles del oso, o périplo asturiano de 2000 ia levar-nos às terras de Somiedo. Contrariamente aos anteriores, o dia 11 de Abril amanheceu soalheiro, e saímos de Teverga para sul, em direcção ao Puerto Ventana e à "fronteira" leonesa. É que na ponte de La Riera, por onde no verão de 1999
passámos na caravana ... nessa altura não passavam ainda autocarros.
No Puerto Ventana, a 1600 metros de altitude ... o avanço só foi possível atrás do limpa-neves! As panorâmicas e a sensação de comunhão com a montanha e a neve eram indescritíveis ... e eram também o prenúncio dos dias que estavam para vir! Por momentos em terras leonesas, do Puerto Ventana passámos ao Puerto de Somiedo - esse já bem conhecido... - para em seguida descermos o espectacular vale de Somiedo. A braña de La Peral, envolta num manto branco, dava-nos as boas vindas.
Em Pola de Somiedo visitámos o Centro de Interpretação do Parque Natural. Mas não, o nosso destino não era Pola de Somiedo, nem a aldeia mítica de Valle de Lago. Durante a preparação desta actividade com alunos, tive conhecimento da existência de outro Albergue, na aldeia de Saliencia, bem no coração das montanhas de Somiedo, a quase 1200 metros de altitude. Este Albergue tinha múltiplos atractivos: a completa ruralidade do meio em que estava envolvido, o facto de ter sido adaptado a partir da antiga escola da aldeia, permitir fazer múltiplas caminhadas a partir das proximidades ... e ter o respectivo gerente, Roberto Menéndez, como guia de montanha, com quem contratei a grande Ruta de Los Lagos.
De Teverga a Saliencia, pelos Puertos Ventana e de Somiedo
O objectivo era fazer o circuito dos Lagos de Saliencia, um conjunto de lagos glaciários de altitude, acima do Lago del Valle ... aquele que tinha ficado "encantado" em 1997 mas que se tinha deixado conquistar no verão de 99. Desceríamos para o Lago del Valle a partir dos Picos Albos, aqueles que nesse verão tinham, nitidamente ... chamado por mim! Após a visita a Pola de Somiedo, foi portanto para Saliencia que nos dirigimos. A estradinha, a partir do vale do rio Somiedo, também era nova para mim ... e dava-nos a todos a sensação de estarmos, mais uma vez ... a entrar no paraíso do paraíso!
Saliencia é uma daquelas a que eu chamo uma aldeia mágica. Completa ruralidade, ruas estreitas, casas de pedra e telhados de colmo, uma capela minúscula (em frente ao Albergue!), gente simples, transparecendo tradições, amor pela terra, pelo ar que se respira, pela água pura do rio Saliencia, pelas montanhas que a rodeiam. É impossível não sermos tocados pela magia daquele lugar perdido! E, uma vez chegados, rapidamente o Roberto passaria a nosso amigo. A meteorologia, essa é que teimava em não ser muito amiga ... ou melhor, dadas as circunstâncias até estava a ser bastante. Na televisão e no jornal, em Saliencia soubemos das inundações que estavam a ocorrer um pouco por todo o lado nas Astúrias, inclusive em locais por onde já tínhamos passado, como em Tuñon, no fim da Senda del Oso.
Mas a meteorologia ia alterar completamente os planos delineados para esta "aventura". Situando-se acima dos 1700 metros de altitude, o previsto percurso dos lagos ... estava completamente coberto de neve. Mais do que isso ... a previsão era de queda de neve durante todo o dia! Pela 2ª vez, Somiedo escondia-me os seus segredos...! Mas o nosso guia Roberto, experiente conhecedor de toda a zona, rapidamente nos delineou um programa alternativo. E assim, numa manhã chuvosa do dia 12 de Abril, fomos conhecer o vale do alto Pigueña, a aldeia perdida de Villar de Vildas e a maior braña de Somiedo, La Pornacal.
Braña de La Pornacal, vale do Pigueña, Somiedo, 12 de Abril de 2000
A partir de Saliencia, em vez de subir ... descemos ao vale de Somiedo, à mítica estrada de Belmonte de Miranda, até Aguasmestas, onde subimos o curso do Pigueña, ao longo de novo vale paradisíaco, um dos últimos redutos do urso pardo em Somiedo. Passadas as aldeias de Santullano e Cores, deixámos o autocarro um pouco antes de Villar de Vildas e seguimos a pé ... e à chuva! Villar de Vildas é outra "aldeia mágica", onde o tempo parecia ter parado ... até porque a aldeia não tinha tido ainda o desenvolvimento que veio a ter 4 anos depois, ao ganhar o prémio Príncipe de Astúrias, como Pueblo Ejemplar.
Com o nosso guia Roberto, na ruta de La Pornacal, 12.04.2000
Ruta de La Pornacal, 12.04.2000
                 
A partir de Villar de Vildas, a nossa ruta levava-nos ao longo do curso do alto Pigueña, até à braña de La Pornacal, a 1200 metros de altitude ... e onde começou a nevar! O nosso guia Roberto explicava-nos tudo, os bosques do lado de lá do rio onde ainda existem ursos, as plantas carnívoras que encontrávamos no caminho, a origem vaqueira das brañas somedanas, o significado dos brasões nas portas dos teitos, tudo. Que extraordinária lição, que extraordinário professor! Obrigado, Roberto Menéndez!
A Ruta de La Pornacal no Wikiloc / Google Earth, 12.04.2000
Um dia na aldeia mágica de Saliencia, 13.04.2000
                                  
Dia 13, penúltimo dia, 8 da manhã. Abrimos as janelas ... e está a nevar em Saliencia! E são mais momentos mágicos, numa semana mágica! As encostas verdejantes desapareceram no nevoeiro, a aldeia parece fazer parte de um conto saído da mitologia, as águas do rio Saliencia correm turbulentas. Impedidos de fazer seja o que for, cada um dá liberdade à sua imaginação, introspecção, meditação. Uns deambulam pelas ruas estreitas da aldeia, outros contemplam o correr das águas, outros recolhem-se na capela frente ao Albergue. Depois do almoço, com uma ligeira aberta dos céus, proponho subirmos a encosta da margem direita do rio, pelo caminho que nos poderia levar ao Cordal de La Mesa, a cumeada que separa terras de Saliencia das terras de Teverga. A maioria do grupo vem comigo, alguns, poucos, preferem o descanso no Albergue. Subimos então aquela encosta íngreme ... ao encontro da neve. Na braña das Morteras de Saliencia, a 1450 metros de altitude ... todos extravazámos a nossa alegria de viver, de conviver, de brincar, de comungar com aquela Natureza virgem, branca e pura!
E na última noite desta semana mágica ... até houve magia mesmo! O nosso anfitrião Roberto brindou-nos com um número de ilusionismo ... em que transformou um sumo de frutos vermelhos em cerveja...J!
E chegava o dia do regresso. Dia 14 de Abril, um dia sem história ... ou melhor ... com as muitas histórias vividas, para contar e recordar!

“Astúrias, afinal de contas um verdadeiro paraíso bem perto de nós, onde o meio rural, a neve e a natural tranquilidade tiveram um plano de destaque.”
Bruno Belchior

"Estes dias deram­-me a oportunidade de conhecer novas pessoas, tradições e locais. E só por isso tornaram-­se inesquecíveis. Gostei particularmente da forma como fomos recebidos."
Carla Pinto
"Foi uma experiência única. Gostei particularmente do espírito em que a vivemos."
Ana Pinto

"Foi excelente. Que outros alunos também venham a ter a oportunidade que todos nós tivemos nesta viagem."
Tiago Sabino
"Soberbo ... no mínimo."
Nelson Rosário

30 de Abril de 2011

segunda-feira, 10 de abril de 2000

2000 ... e estamos nos Valles del Oso

O simbólico ano 2000 chegara. Novos tempos se avizinhavam. No Carnaval, o parque de campismo da Costa da Galé, próximo de Sines, recebeu-nos na caravana por 5 dias, de 4 a 8 de Março. Na escola, as turmas que tinham ido ao Gerês em Março de 99 estavam agora no 11º ano. E ... não havia eu entretanto descoberto a minha terceira "terra natal"? Era obrigatório levar os alunos ao paraíso natural de Somiedo!
Assim, de 8 a 14 de Abril de 2000, com os meus alunos de Ciências e os alunos de Humanísticas do já habitual outro casal de professores destas "andanças" ... passámos uma semana no paraíso.
Na Senda del Oso, circuito ciclista, 9.04.2000
A todos os níveis, esta foi realmente uma semana especial ... ou não fossem Somiedo e os valles del oso do sudoeste asturiano ... um paraíso especial! Com base no Albergue de juventude que tinha descoberto em Teverga no verão de 99, o primeiro destino eram precisamente aqueles vales. Entrámos nas Astúrias na já nossa bem conhecida auto-estrada A66, a autopista del Huerna. Por Pola de Lena e pelo Puerto da Cobertoria ... a sensação de todos era verdadeiramente a de estarmos a entrar num paraíso perdido ... e chuvoso. Aliás estes dias foram muito marcados pela chuva ... e não só, como veremos. Passámos Santa Marina e Bárzana de Quirós, onde voltaríamos no dia seguinte, e com quase 800 km feitos desde Lisboa, chegámos ao Albergue San Martín, em San Martín de Teverga.
Ainda nesse mesmo primeiro dia, à noite, a direcção do Albergue faria uma apresentação das Astúrias e das actividades que íamos realizar nos dois dias seguintes.  Não conhecendo eu parte do que íamos  fazer,
Senda del Oso e noite folk em Sta Marina de Quirós, 9.04.2000
seria a própria guia do Albergue a acompanhar-nos. E assim, o primeiro dia no paraíso era logo destinado a uma primeira "aventura": o circuito ciclista da "Senda del Oso", numa extensão de quase 30 km. As férias de 1999 tinham-me revelado aquele velho trilho mineiro, excelentemente transformado em trilho pedestre e ciclista. As bicicletas tinham igualmente sido contratadas com o Albergue. E pouco passava das 9 da manhã ... era dada a partida! Os poucos não ciclistas do grupo partiam igualmente, a pé, para um troço mais curto. E assim, ao longo do desfiladeiro de Teverga, ou de Peñas Juntas, por vezes atravessando túneis escavados nas paredes rochosas que ladeiam o rio Trubia, lá fomos avançando na Senda, sem dificuldades, já que o percurso é suavemente descendente em toda a sua extensão. Próximo de Proaza, fizemos uma "visita" às já nessa altura "famosas" ursas Paca e Tola, duas ursas que ficaram orfãs de uma mãe abatida selvaticamente por caçadores furtivos e que foram recolhidas pela Fundación Oso de Asturias. Passaram a viver num cercado ali construído para o efeito, junto à Senda e próximo da Casa del Oso, numa semi-liberdade onde podem ser alimentadas e vigiadas ... e servir de símbolos vivos da preservação da espécie na cordilheira cantábrica.
Passada Proaza e Villanueva, a Senda del Oso termina em Tuñón, junto a um urso de pedra que assinala a reconversão da linha mineira. Aí invertemos portanto o sentido, regressando a Villanueva, onde o autocarro nos recolheu, reunificando-se o grupo ... e onde almoçámos. Este almoço e o regresso a Teverga ficaram assinalados por um episódio "histórico"...! Eu e um aluno tínhamos capas de chuva iguais. Ao almoço, tendo parado a chuva, obviamente tirámo-las. No regresso a Teverga ... o "pobre" dá por falta da carteira, onde além de todo o dinheiro tinha todos os documentos. "Eu caí da bicicleta naquele sítio", dizia ele; e lá fomos ver se víamos uma carteira caída no local indicado ... mas nada. Triste e inconformado ... regressámos. Eis senão quando eu meto a mão ao bolso da minha capa (ou da que supunha ser minha...) ... e encontro uma carteira que não conhecia e que não era minha!!! Eis a história, portanto ... de
Taberna folk, Sta Marina de Quirós, 9.04.2000
quando um professor "roubou" a carteira a um aluno...J!
Ao final da tarde, seguia-se a visita ao Museu Etnográfico de Quirós, em Bárzana. E que Museu! Que bela preservação e, diria mesmo, que amor ali transparece pela cultura e pelas tradições daqueles vales perdidos no sudoeste do paraíso asturiano! Mas, em terras de Quirós, o dia 9 de Abril iria acabar com horas mágicas, vividas na "Taberna Folk" da pequena aldeia de Santa Marina de Quirós! Quando da preparação desta actividade, encontrei publicidade a esta "Taberna", que realizava pontualmente, para grupos, umas "noites folk". Ora, que melhor forma de conciliar a minha paixão pela música tradicional com uns momentos de divulgação, àqueles alunos, de uma outra vertente das vivências culturais e etnográficas das Astúrias? O que ali vivemos foi portanto uma verdadeira "espicha asturiana", ou seja uma festa que é, ao mesmo tempo, um jantar típico e um concerto ... ao sabor da sidra! O ritual da sidra e a "espicha" fazem parte, sem dúvida, do património cultural asturiano! Da componente musical encarregou-se o grupo Dubram, na altura com alguma relevância no panorama folk asturiano. Dele faziam parte, entre outros, Alberto Ablanedo e Dolfu R. Fernández. E tocaram, cantaram e encantaram todo o nosso grupo. Outras vivências, numa festa de alegria
Ruta de Las Xanas, Sto Adriano / Pedroveya, 10.04.2000
e juventude, uma outra forma de aprender e de viver a cultura. É claro que, tratando-se de alunos, a sidra foi devidamente "racionada" ...J; e, pouco depois da meia noite, estávamos a regressar ao Albergue, em San Martín de Teverga.
No dia seguinte tínhamos a primeira caminhada. Logo o nome levantava uma aura de misticismo: Ruta de Las Xanas.  As  xanas são ninfas da mitologia asturiana, de rara beleza, que habitam as nascentes e as torrentes de água. De longos cabelos ruivos e olhos claros, penteiam-se com belos pentes de oiro ... e, nuas, encantam os rapazes jovens das aldeias, a quem prometem tesouros e encantos! Mais uma vez, tratando-se de uma caminhada que eu não conhecia, a nossa guia Margarita, do Albergue de Teverga, acompanhou-nos no autocarro até Villanueva de Sto Adriano - portanto repetindo o curso do Trubia - e guiou-nos ao longo daquela espectacular ruta. Trata-se de uma caminhada curta  -  apenas cerca de 4 km  -  subindo ao
A Ruta de Las Xanas no Wikiloc / Google Earth, 10.04.2000
longo de um espectacular desfiladeiro escavado pelo rio das Xanas. Entre densa vegetação, a parte final termina num extenso prado que prenuncia a capela de San Antonio e a aldeia de Pedroveya, já no concelho de Quirós, no caminho percorrido no século XIX por San Melchor. E, em Pedroveya, o Albergue de Teverga e a nossa guia Margarita tinham reservado para nós um típico almoço camponês, na Casa Generosa ... de que havíamos de ficar "clientes"...J!
Depois do almoço ... havia que regressar ao vale de Sto Adriano, descendo de novo os 4 km da ruta de las Xanas. Regressados também a Teverga, houve ainda lugar a uma visita guiada à Colegiata de San Pedro. Já no Albergue, na sequência de um dia chuvoso ... seguir-se-ia uma espécie de lotaria, com as botas de quase todos em roleta russa, na máquina de secar roupa! Era a despedida dos valles del oso...
 
29 de Abril de 2011

segunda-feira, 20 de dezembro de 1999

Do Douro à Gardunha ... no fim dos anos de 1900

No último trimestre de 1999, duas "aventuras" assinalariam o fim do penúltimo ano do século, ambas em ronda de amigos. Em Outubro, subimos o Douro até à Régua, e, em Novembro, voltámos à Gardunha e às terras de Alpedrinha.
Assim, no dia 8 de Outubro à tarde, o nosso "grupo dos seis" estava a partir para o Porto, 2 casais na nossa autocaravana e o outro no respectivo Passat. "Acampámos" no velho parque da Prelada ... e a primeira "aventura" foi meter os 6 no Passat, à noite, para ir jantar...J!
No dia seguinte de manhã estávamos na bela Ribeira, prontos para o cruzeiro. O Douro ia mostrar-nos as suas belezas naturais, numa paisagem humanizada pelos seus famosos vinhedos, mas também pelas sucessivas barragens e respectivas eclusas. Em Entre-os-Rios, passámos sob a Ponte Hintze Ribeiro ... mundialmente conhecida menos de 2 anos depois, quando um dos pilares desabou, levando à queda de parte do tabuleiro no Rio Douro, levando consigo um autocarro e três carros e matando cerca de 60 pessoas.
O regresso da Régua ao Porto foi de comboio, na velha linha do Douro, quase sempre à beira rio. Sem dúvida um belo passeio, que anos mais tarde completaríamos até Barca de Alva.

Um mês depois, à semelhança do ano anterior,  a  4 de Novembro voltávamos  a  Alpedrinha,  para  passar
Alpedrinha, Palácio do Picadeiro, 4.11.99
outros 4 dias em terras da Gardunha. Nestes dias, ainda houve um passeio a Idanha-a-Nova - visitando o seu Museu Etnográfico raiano - e ao Santuário da Srª do Almurtão ... e um apelo da serra: os três "machos" do grupo calcorrearam a velha calçada romana de Alpedrinha, atravessaram a serra, desceram por Alcongosta ... e foram até ao Fundão a pé; são apenas uns curtos 7 km. De resto, estes dias foram de puro descanso, convivência ... amizade vivida.
Três "bodes" na Serra da Gardunha, 6.11.1999
Pastores e pastorinhas...J, 6.11.1999
E chegava a data "mágica"...! Não era ainda o fim do século e do milénio, mas era a data mais "mística" e "enigmática". Como me lembro, como se fosse hoje, de com 13 ou 14 anos, ou até mais, pensar ... "ano 2000? ainda falta tanto! ". O tanto havia-se contudo transformado em tão pouco, o ano 2000 estava ali mesmo a chegar! Até sobre as primeiras "aventuras" relatadas neste blog ... já se tinham passado 30 anos!
28 de Abril de 2011

sábado, 14 de agosto de 1999

À redescoberta de Somiedo ... e de outros paraísos naturais asturianos

A 26 de Julho de 1999, partíamos para as nossas segundas férias a dois ... para o norte peninsular...J! Desta vez começámos pela Galiza.  A Península do Morrazo,  frente às ilhas Cíes,  ocupou-nos os quatro
Cabo Home, Morrazo, 28.07.1999
primeiros dias, numa de mar e de céu, dos cortes e recortes daquela costa escarpada. Moaña, o Cabo Home, Hío, Aldán, são nomes que soam a liberdade, a uma Natureza ainda quase no seu estado mais puro ... antes do Prestige! Depois, rumámos a Lugo, Fonsagrada ... e entrámos nas Astúrias, por Grandas de Salime e pela Serra do Rañadoiro. Por Cangas de Narcea e pelo Puerto de Leitariegos, passámos por momentos ao norte de Leão, para reentrarmos nas Astúrias ... no Puerto de Somiedo! Descemos a Pola de Somiedo,  subimos a Valle de Lago ... e  o Camping Lagos
Camping "Lagos de Somiedo", Valle de Lago, 1.08.1999
de Somiedo esperava por nós. É verdade: dois anos depois, estávamos de novo no paraíso perdido de Somiedo, a minha 3ª "terra natal"! Desta vez ... nada nem ninguém me tiraria de lá...J!
Ao contrário do dia 5 de Agosto de 1997, o dia 1 de Agosto de 99 amanheceu esplendoroso! O Sol iluminava o vale onde estávamos, encaixado entre as encostas que dois anos antes nem sequer tínhamos visto. Os folhetos fornecidos pelo parque e as consultas numa internet ainda relativamente incipiente falavam-me das brañas vaqueiras, da Braña de Sousas, ali relativamente perto de Valle de Lago, dos Picos Albos ... e de tantos e tantos possíveis percursos a pé por aquelas montanhas, onde pareciam ecoar os acordes dos Llan de Cubel, aqueles que ainda hoje continuam a ser a minha referência na folk asturiana.
O dia 1 de Agosto foi assim o da descoberta do Lago del Valle, o maior lago glaciário da cordilheira cantábrica. Era a caminhada que teríamos feito dois anos antes ... e uma das muitas que viria a fazer nas terras mágicas de Somiedo. Saindo da aldeia pelo bairro de Auteiro, vamos ganhando altitude, subindo o vale do rio del lago. Surgem-nos os primeiros teitos. Os teitos são cabanas típicas do ocidente das Astúrias e noroeste leonês, construídas em pedra, com cobertura vegetal, normalmente de palha de centeio ou giesta. Os aglomerados de teitos caracterizam as brañas, ligadas à transumância entre as pastagens de altitude, para onde em Maio os vaqueiros subiam em busca dos frescos prados, regressando para passar o inverno nos campos e pastagens mais baixos. As brañas correspondem às nossas brandas e inverneiras, típicas por exemplo das Serras da Peneda e do Soajo.
À redescoberta de Somiedo, 31.07 e 1.08.1999
O percurso do Lago del Valle no Wikiloc / Google Earth, 1.08.99
                  
Ao longo de um vale majestoso, caminhávamos em direcção aos Picos Albos e à parede por trás do Lago del Valle, que separa as Astúrias de Leão. O lago, que neste trajecto só se vê praticamente quando lá chegamos, situa-se a 1570 metros de altitude, rodeado dos altos picos que fecham aquele circo glaciar, ultrapassando os 2000 metros, a sul. Que melhor sítio para almoçarmos? A sensação de ter "conquistado" aquele lugar, que dois anos antes tinha estado perdido nas nuvens e chuvas, é indescritível. E as montanhas à volta chamavam-me para mais "aventuras", para palmilhar os trilhos que se percebiam possíveis. Mas ... os carros e caravanas ainda não têm telecomando para os teletransportar para outro lado. É uma das vantagens de fazer caminhadas em grupo: o autocarro vai-nos buscar a outro destino. Assim, descemos de novo o vale, de regresso a Valle de Lago e ao parque de campismo. A visão no sentido descendente é também extraordinária, com a aldeiazinha a perceber-se desde meio caminho, ao lado da Peña Furada, o grande bloco rochoso a sudoeste, furado de lado a lado por um grande "olho" natural. Menos de um ano depois ... estaria em Somiedo com alunos!
Mas Somiedo não acaba no Lago del Valle, muito pelo contrário. Dia 2 de Agosto, descemos a Pola de Somiedo e descemos o curso do rio Somiedo até à central de La Malva e a La Riera. Era a estrada que 2 anos antes havíamos feito em sentido contrário, quando pela primeira vez eu tinha sido tocado pela magia
Puerto de S. Lorenzo, 2.08.1999
de Somiedo. Agora, em mais um esplendoroso dia de Sol, as encostas e os montes pareciam rejubilar de vida. E em La Riera rumámos a leste, voltando a subir, desta vez para o Puerto de San Lorenzo ... e para as nuvens. O Puerto de San Lorenzo divide as comarcas de Somiedo e de Teverga e, com elas, separa as terras somedanas dos chamados Valles del Oso, por neles se encontrarem ainda alguns dos últimos ursos pardos cantábricos, se bem que do lado de Somiedo também, principalmente no vale do Pigueña.
Mas à medida que nos aproximávamos do Puerto de San Lorenzo ... os céus fechavam-se num imenso nevoeiro que não deixava ver nada. Somiedo tem os seus mistérios, os seus dias de glória, mas também os seus dias de misticismo, em que as nuvens escondem as montanhas, realimentando as águas que escorrem pelas encostas verdejantes. Dali, do Puerto de San Lorenzo, apenas víamos as placas indicadoras de um trilho ... e os primeiros metros dele. Uns anos mais tarde lá estaria ... para fazer o Cordal de La Mesa, o trilho naquela altura perdido nas nuvens.
Naranjo de Bulnes, visto do miradouro de Camarmeña, 3.08.1999
E assim descemos a Teverga, simpática vila no vale do rio Trubia, que descemos ao longo do desfiladeiro de Peñas Juntas e da Senda del Oso, velha linha mineira transformada em trilho pedestre e ciclista. Claro que logo nasceu a ideia de ali levar também alunos ... tanto mais que em Teverga tínhamos visto a existência de um Albergue. E em Proaza visitámos a Casa del Oso, exposição sobre o habitat do urso pardo e a sua história na cordilheira cantábrica. Depois ... do ocidente rumámos ao oriente das Astúrias: por Oviedo e Cangas de Onís, fomos passar dois dias ao "nosso" velho Camping "Naranjo de Bulnes", em Arenas de Cabrales. Basicamente de descanso, o primeiro desses 2 dias foi dedicado a uma curta caminhada à  aldeia de  Camarmeña  e
Camping "Naranjo de Bulnes", 4.08.1999
ao miradouro do Naranjo de Bulnes, o mítico torreão rochoso, emblema dos Picos de Europa e do montanhismo, sobre a pequena aldeia de Bulnes e aos pés da já nossa conhecida Senda del Cares.
Continuando para leste, no dia 5 cruzámos a Sierra del Cuera, a norte de Arenas, para descermos depois o desfiladeiro de La Hermida, em direcção a Potes. Em tantas vezes que já atravessámos este desfiladeiro, ao longo do rio Deva, foi sempre ficando para trás uma caminhada mítica, que ainda um dia quero fazer: a Ruta de Tresviso, ligando a aldeia do mesmo nome, nos cumes próximos de Sotres, ao rio Deva e ao vale. E sendo o vale de Liébana também já nosso velho conhecido, o dia 6 foi igualmente de completo descanso, no camping das nossas "amigas" cunhadas, o velho "La Isla - Picos de Europa".
De Arenas de Cabrales a terras de Sobrescobio, 5 a 9.08.1999
Pelo Puerto de Piedrasluengas, passámos depois para terras palentinas e leonesas, contornando a Reserva de Fuentes Carrionas, por Cervera de Pisuerga e Guardo. Em Boca de Huérgano, próximo de Riaño ... estivemos um dia e meio "retidos" na caravana, no Camping "Alto Esla" ... à espera que a chuva parasse! E no dia 9 a chuva parou...J!
O percurso da Ruta del Alba no Wikiloc / Google Earth
Reentrámos nas Astúrias pelo Puerto de Tarna, atravessando o recém criado Parque Natural de Redes, ao longo do jovem rio Nalón. O destino eram agora as terras de Sobrescobio e a Ruta del Alba, mais  uma das  maravilhas naturais do paraíso natural
Ruta del Alba e Hoces del Rio Aller, 9.08.1999
de Astúrias. É o reino do verde e da água, 14 km a pé a partir da aldeia de Soto de Agues, um reino de magia e de encanto.
Por Pola de Laviana e Cabañaquinta, inflectimos de novo para sul, em direcção ao Puerto de San Isidro e a outra maravilha desta zona sul de Astúrias, as Hoces del Rio Aller. Embora sem percurso pedestre, atravessámos na caravana mais este paraíso verde, no limite mesmo entre Astúrias e Leão. Já em Leão, atravessámos a Reserva de Mampodre ... e despedimo-nos das montanhas cantábricas, neste glorioso ano de 1999.
O dia 11 de Agosto era especial: no camping da cidade de Leão, assistimos ao maior eclipse solar do século, na Europa. Pouco depois do meio dia ... o Sol escondeu-se e parecia que ia anoitecer! Mas as trevas afastaram-se e a luz voltou de novo...
Leão, 11.08.1999 - Quando do dia se fez noite
Lago de Sanabria, 12.08.1999
Estas férias contariam ainda, no regresso, com uma breve passagem pelo Lago de Sanabria, entrando em Portugal por Montesinho, e com um dia de descanso final no camping de Pomares, perto de Avô ... de onde regressámos a casa.
 
27 de Abril de 2011