Regressados dos Pirenéus a 9 de Agosto ... dia 11 estávamos em
Vale de Espinho, para passar grande
parte do resto do mês. E logo dois dias depois, participo numa caminhada
organizada por um grupo de pessoas dos Foios, nas chamadas
Torres das Ellas, os espigões rochosos da Serra do Espiñazo, sobre
Valverde del Fresno e as Ellas. Já conhecia
a zona, mas a caminhada foi orientada por fojeiros muito conhecedores daquelas
rotas, o que é sempre uma mais-valia importante. Histórias de barrocos
cortados por um raio, de fontes que guardam tesouros escondidos, foram
animando e alimentando esta belíssima caminhada. Obrigado Tó e Xico Lei!
Agosto foi também o mês em que pela primeira vez os netos, agora ambos com
pouco mais de ano e meio, passaram uma temporada maior na raia.
No dia 20 vou de Vale de Espinho à Gardunha e regresso,
para participar com outro caminheiro na prospecção da que viria a ser a
caminhada de Setembro dos Caminheiros Gaspar Correia. Mas o
fim de Agosto e os primeiros dias de Setembro de 2009 ficariam para sempre
marcados nas memórias de Vale de Espinho e de todo o concelho
do Sabugal. Naqueles dias ... o inferno passou por ali! A mão
criminosa dos incêndios, que todos os anos varre as nossas florestas, sacudiu
todo o concelho do Sabugal com uma onda de fogo como nunca naquela zona se
havia visto! Entre Vale de Espinho e os Foios, o incêndio começou no
Regordo ... junto ao Côa! Como é possível
começar num baixio, junto à água, e rapidamente subir às
Cortes e às Balsas, ao cimo da
Serra de Aldeia Velha ... envolvendo as novas torres eólicas
que infelizmente povoam a cumeada?!...
Já tinha regressado a Lisboa ... mas não me contive. Os campos ainda
fumegavam...! Na zona do Terreiro das Bruxas ... tudo havia
sido carbonizado! Entre o dia 30 de Agosto e o dia 1 de Setembro, mais de 60%
do concelho do Sabugal foi devastado pelas chamas!
No dia 2 meto os pés ao caminho ... e o "filme" que se me revelou foi um
cenário dantesco. Ao avançar das Balsas para as Fontes Lares,
por momentos alimentei a esperança de que a serpente de fogo tivesse poupado
aquele "santuário". Mas rapidamente a esperança se foi desvanecendo ... e as
lágrimas corriam-me soltas quando me sentei no meu barroco sagrado. Qual
ilha num mar de cinzas, o barroco jazia isolado, perdido na negritude que o
rodeava. As ruínas da velha casa, ocupadas nas últimas décadas por silvas
impenetráveis ... estavam agora mais vazias do que nunca, esventradas, comidas
pelo fogo até nas velhas paredes interiores. Próxima, da velha casa do Ti Zé
Tomé ainda se soltavam grossas colunas de fumo...
O barroco "sagrado" jaz como ilha num mar de cinzas... 2.09.2009 |
Uma dolorosa caminhada ao inferno... 2.09.2009 |
E o inferno passou por aqui... 2.09.2009 (Clique para ver o álbum) |
Que arda no fogo dos infernos quem provoca esta miséria que todos os anos se
repete ... quem lucra com a destruição do nosso património natural ... quem
deixa impunes os crimes que nos corroem o mais íntimo de nós mesmos! Ao longo
desta caminhada de dor e sofrimento, testemunhei outra "coincidência" dos
"fenómenos" que provocam os incêndios florestais: 90% ou mais do que vi
queimado foram áreas de pinhal; as áreas de carvalhos e de outras
caducifólias estavam praticamente intactas, mesmo que ao lado de extensas
áreas devastadas. Porquê?...
Mas os (ir)responsáveis pela gestão florestal teimam em reflorestação com resinosas...! Porquê?...
Mas os (ir)responsáveis pela gestão florestal teimam em reflorestação com resinosas...! Porquê?...
(Este artigo foi escrito e publicado a 2 de Setembro de 2011 ... 2 anos
depois desta dolorosa caminhada)