Iniciada a descida pedestre do
Côa em Junho, o objectivo era
a sua continuação para noroeste, rumo ao
Sabugal. Em Julho,
em
Vale de Espinho também estava a passar uns dias o primo
"francês" das aventuras na
Marvana
e na
Serra da Gata...
J. Como
depois da "lição" da Marvana e da "confirmação" no
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O Côa junto ao Moinho da Escaleira, Quadrazais, 21.07.2010
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Jañona eu já sabia com o que é que contava ... propus-lhe fazer esta etapa
comigo. E assim, no dia 21 de Julho, saímos ambos de Vale de Espinho para
iniciar, junto ao
Moinho da Ervaginha, a segunda etapa
daquela descida pedestre.
O "
rio sagrado" aproxima-se da estrada junto à açude dos
Urejais e do restaurante e viveiro de trutas
Trutalcôa. Acompanhámos o rio ao longo dos viveiros e, já
prestes a seguir rumo a
Quadrazais ... deparámos com três
"feras ferozes" pertencentes à TrutalCôa...
J. Quando o
primo Quim viu aquelas "feras" … estarreceu; passado um momento de pânico …
"voou" literalmente, numa corrida louca … que só parou quando não deu conta de
uma vala e torceu um pé! A "fera feroz" que o "ameaçava" … ficou a ver a cena.
Sentado no chão agarrado ao pé (mas longe do raio de acção da corda que
segurava a "fera"), lá conseguiu mais ou menos "endireitá-lo" … e a água
gélida e benfazeja do Côa aliviou-lhe as dores. Mas era evidente que não
estava capaz para fazer uma caminhada.
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Ao longo do Côa, rumo ao Espírito Santo, 21.07.2010
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E assim, após alguma insistência do autor destas linhas para o acompanhar de
volta (que foi recusa-da), voltou para casa a coxear, pela estrada! A
caminhada para ele, desta vez, tinha tido 3,5 km.
Ainda antes do Espírito Santo, surge-nos o
Moinho da Escaleira; belas borboletas e libélulas povoam as
margens do
Côa. E chegamos ao
Espírito Santo, a praia fluvial de Quadrazais. E prosseguimos
para o açude e
Moinho do Salgueiral. Por vezes a progressão é
dificultada pelo emaranhado do mato, mas lá vou descobrindo passagens
"secretas", descobrindo cantos e recantos do Côa de raríssima beleza.
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Moinho do Salgueiral, Quadrazais, 21.07.2010
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Cantos e recantos desconhecidos do Côa, 21.07.2010
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Segue-se o
Moinho de João Lourenço, cruza-se o estradão
Quadrazais - Malcata, chego ao açude e ao
Moinho da Mursa, o maior deste troço do Côa. E próximo de Quadrazais muitos eram igualmente
os moinhos que, nas épocas de labor, moíam o trigo, o milho, o centeio que
alimentava as populações. Percorro as suas ruínas, registo as imagens do
lamento que neles se sente ... e sigo a minha "romagem".
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Açude e Quinta do Moinho da Mursa, Quadrazais, 21.07.2010
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Um paraíso no Côa, Quadrazais, 21.07.2010
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Após uma ampla curva de 180º, o Côa corre para a
Estrajassola, como se quisesse dirigir-se para o velho
Cruzeiro das Peladas, vigiado pela
Machoca,
que, do alto da Serra da Malcata, o domina a sul. Pouco depois do
Moinho do Covão, começam a sentir-se os efeitos da
aproximação à
Barragem do Sabugal.
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Estrajassola: começa a notar-se a proximidade da Barragem
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Na Volta da Fraga, 23.07.2010
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A barragem vai-me obviamente impedir a progressão. Da
Veiga da Moreira subo ao
Cruzeiro das Peladas ... e regresso a casa via Colónia
Agrícola de
Martim Rei. Este tipo de caminhadas tem sempre
esta contingência: como é o regresso? Bem, naquele dia 21 de Julho foi na
carreira da tarde da "Viúva Monteiro". Dois dias depois estava lá de novo, de
carro, para fotografar a zona da
Volta da Fraga e do Casal de
Vale dos Sapos, já em plena barragem. Algures naqueles
recantos, debaixo de água, estarão os restos de outros antigos moinhos, como o
Moinho da Volta da Fraga, o
Moinho da Tinita, e outros.
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Algures neste recanto, debaixo de água ... está o
Moinho da Volta da Fraga, 23.07.2010
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Barragem do Sabugal vista da Torre da Machoca (Malcata),
25.07.2010
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"Partindo" portanto a descida pedestre ao nível da Barragem do Sabugal, no dia
25 de Julho reencetei-a na margem esquerda, para fazer o percurso de
Malcata até ao
Sabugal. Antes, da torre de
vigia da
Machoca, tem-se uma boa percepção da área alagada
pela albufeira e do rumo do Côa, definitivamente para norte. Este troço
Malcata - Sabugal pouco ultrapassa os 9 km, paralelamente aos cabeços um pouco
mais altos da margem direita do Côa, das
Teixedas ao
geodésico do
Gravato.
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Açude do Cascalhal, o primeiro a seguir à barragem, 25.07.2010
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Junto ao Moinho do Cascalhal, Sabugal, 25.07.2010
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Passado o paredão da barragem, estamos de novo à vista de um Côa estreito.
Estamos também no
Santuário da Srª da Graça e no Centro de
Educação Ambiental da Reserva da Malcata. E logo surge a primeira açude após a
barragem, junto à qual é possível cruzar o Côa de novo para a margem direita
... para encontrar o
Moinho do Cascalhal, ou do "Ti" Zé
Martins, que ainda não há muitos anos o "alimentava" e fazia funcionar. E dali
à praia fluvial do
Sabugal é um pulo.
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O Côa na praia fluvial do Sabugal, 25.07.2010
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Mesmo junto à velha ponte do Sabugal, o
Moinho do Zé Ricardo é um exemplo de recuperação; pena é que
a maioria dos velhos moinhos estejam no mais completo abandono. E dentro do
Sabugal chegamos ao pontão das poldras, ao lado do qual se
construiu a nova ponte do
Côa. O progresso não se compadece
muito com o passado ... e por isso, no limite norte do Sabugal, na margem
direita do Côa, vou encontrar a velha Quinta do Dr. Francisco Maria Manso, o
"Dr. Framar" das célebres "
Caçadas aos Javalis", preciosidade fundamental para conhecer muito do sabor, das lendas, das
tradições e do viver raiano nos anos 30 e 40 do século passado.
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Ponte Nova do Sabugal e velho pontão das poldras, 25.07.2010
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A velha Quinta do Dr. Francisco Maria Manso,
Sabugal, 25.07.2007
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As duas "etapas" da descida pedestre do Côa, da nascente ao Sabugal
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Mais dois dias ... e a "febre" da descida do Côa lança-me em nova etapa, para
lá do Sabugal! Mais uma vez ... esta descida solitária tem a contingência do
regresso ao local de origem. Por isso, a 27 de Julho deixo o carro no
Rendo ... e vou a pé pela estrada até ao
Sabugal! Assim, no final ... teria o carro à espera.
E na velha Quinta do Dr. Manso, onde havia terminado dois dias antes, comecei
então o meu acompanhamento do
Côa. Passando a ETAR do
Sabugal, acompanha-se o rio ao longo da
Tapada de S. Lázaro (e respectivo moinho), até à foz da
ribeira da
Paiã e às ruínas do
Moinho do Marques.
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Açude junto à foz da Ribeira da Paiã (margem direita do Côa),
27.07.2010
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Neste troço, o Côa faz duas amplas curvas. Após atravessar carvalhais e alguns
campos de cultivo, chega-se às ruínas dos precisamente chamados
Moinhos da Volta. Ao longo de todo este troço, sucedem-se
recantos de rara beleza onde, mesmo em Julho, o Côa leva grande quantidade de
água.
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Segunda açude da Volta do Côa, 27.07.2010
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A caminho do Moinho dos Margaridos, 27.07.2010
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Infelizmente, todos estes moinhos estão em ruínas, rodeados de mato e silvas,
perdidos num tempo que já não é o nosso. Passando para a margem esquerda, subo
agora dos 720 metros do rio aos 830 do talefe das
Vinhas,
apreciando o vale mas também à vista da pequena aldeia de
Quinta das Vinhas. Volto a descer para o
Moinho do Delfim, este aparentemente habitado, mas não
funcional, e pouco depois atravesso de novo para a margem direita, ao encontro
de uma velha mas grande quinta, a
Quinta da Foz.
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Alto das Vinhas, observando o vale do Côa, 27.07.2010
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Moinho do Delfim, 27.07.2010
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São quase horas de almoço, mas ainda me aproximo de novo do Côa, na açude que
serve de praia improvisada à minúscula aldeia de Quinta das Vinhas. Depois ...
foi subir a encosta até ao
Rendo, ao encontro do
carro. A minha descida do Côa apenas tinha progredido menos de 7 km
"úteis", mas com o percurso até ao Sabugal e as voltas necessárias ...
tinha percorrido 21 km. E, na açude da Quinta das Vinhas ... a descida
pedestre do Côa iria agora esperar até Novembro pela continuação.