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segunda-feira, 10 de abril de 2000
2000 ... e estamos nos Valles del Oso
O simbólico ano 2000 chegara. Novos tempos se avizinhavam. No Carnaval, o parque de campismo da Costa da Galé, próximo de Sines, recebeu-nos na caravana por 5 dias, de 4 a 8 de Março. Na escola, as turmas que tinham ido ao Gerês em Março de 99 estavam agora no 11º ano. E ... não havia eu entretanto descoberto a minha terceira "terra natal"? Era obrigatório levar os alunos ao paraíso natural de Somiedo!
Assim, de 8 a 14 de Abril de 2000, com os meus alunos de Ciências e os alunos de Humanísticas do já habitual outro casal de professores destas "andanças" ... passámos uma semana no paraíso.
Na Senda del Oso, circuito ciclista, 9.04.2000
A todos os níveis, esta foi realmente uma semana especial ... ou não fossem Somiedo e os valles del oso do sudoeste asturiano ... um paraíso especial! Com base no Albergue de juventude que tinha descoberto em Teverga no verão de 99, o primeiro destino eram precisamente aqueles vales. Entrámos nas Astúrias na já nossa bem conhecida auto-estrada A66, a autopista del Huerna. Por Pola de Lena e pelo Puerto da Cobertoria ... a sensação de todos era verdadeiramente a de estarmos a entrar num paraíso perdido ... e chuvoso. Aliás estes dias foram muito marcados pela chuva ... e não só, como veremos. Passámos Santa Marina e Bárzana de Quirós, onde voltaríamos no dia seguinte, e com quase 800 km feitos desde Lisboa, chegámos ao Albergue San Martín, em San Martín de Teverga.
Ainda nesse mesmo primeiro dia, à noite, a direcção do Albergue faria uma apresentação das Astúrias e das actividades que íamos realizar nos dois dias seguintes. Não conhecendo eu parte do que íamos fazer,
Senda del Oso e noite folk em Sta Marina de Quirós, 9.04.2000
seria a própria guia do Albergue a acompanhar-nos. E assim, o primeiro dia no paraíso era logo destinado a uma primeira "aventura": o circuito ciclista da "Senda del Oso", numa extensão de quase 30 km. As férias de 1999 tinham-me revelado aquele velho trilho mineiro, excelentemente transformado em trilho pedestre e ciclista. As bicicletas tinham igualmente sido contratadas com o Albergue. E pouco passava das 9 da manhã ... era dada a partida! Os poucos não ciclistas do grupo partiam igualmente, a pé, para um troço mais curto. E assim, ao longo do desfiladeiro de Teverga, ou de Peñas Juntas, por vezes atravessando túneis escavados nas paredes rochosas que ladeiam o rio Trubia, lá fomos avançando na Senda, sem dificuldades, já que o percurso é suavemente descendente em toda a sua extensão. Próximo de Proaza, fizemos uma "visita" às já nessa altura "famosas" ursas Paca e Tola, duas ursas que ficaram orfãs de uma mãe abatida selvaticamente por caçadores furtivos e que foram recolhidas pela Fundación Oso de Asturias. Passaram a viver num cercado ali construído para o efeito, junto à Senda e próximo da Casa del Oso, numa semi-liberdade onde podem ser alimentadas e vigiadas ... e servir de símbolos vivos da preservação da espécie na cordilheira cantábrica.
Passada Proaza e Villanueva, a Senda del Oso termina em Tuñón, junto a um urso de pedra que assinala a reconversão da linha mineira. Aí invertemos portanto o sentido, regressando a Villanueva, onde o autocarro nos recolheu, reunificando-se o grupo ... e onde almoçámos. Este almoço e o regresso a Teverga ficaram assinalados por um episódio "histórico"...! Eu e um aluno tínhamos capas de chuva iguais. Ao almoço, tendo parado a chuva, obviamente tirámo-las. No regresso a Teverga ... o "pobre" dá por falta da carteira, onde além de todo o dinheiro tinha todos os documentos. "Eu caí da bicicleta naquele sítio", dizia ele; e lá fomos ver se víamos uma carteira caída no local indicado ... mas nada. Triste e inconformado ... regressámos. Eis senão quando eu meto a mão ao bolso da minha capa (ou da que supunha ser minha...) ... e encontro uma carteira que não conhecia e que não era minha!!! Eis a história, portanto ... de
Taberna folk, Sta Marina de Quirós, 9.04.2000
quando um professor "roubou" a carteira a um aluno...J!
Ao final da tarde, seguia-se a visita ao Museu Etnográfico de Quirós, em Bárzana. E que Museu! Que bela preservação e, diria mesmo, que amor ali transparece pela cultura e pelas tradições daqueles vales perdidos no sudoeste do paraíso asturiano! Mas, em terras de Quirós, o dia 9 de Abril iria acabar com horas mágicas, vividas na "Taberna Folk" da pequena aldeia de Santa Marina de Quirós! Quando da preparação desta actividade, encontrei publicidade a esta "Taberna", que realizava pontualmente, para grupos, umas "noites folk". Ora, que melhor forma de conciliar a minha paixão pela música tradicional com uns momentos de divulgação, àqueles alunos, de uma outra vertente das vivências culturais e etnográficas das Astúrias? O que ali vivemos foi portanto uma verdadeira "espicha asturiana", ou seja uma festa que é, ao mesmo tempo, um jantar típico e um concerto ... ao sabor da sidra! O ritual da sidra e a "espicha" fazem parte, sem dúvida, do património cultural asturiano! Da componente musical encarregou-se o grupo Dubram, na altura com alguma relevância no panorama folk asturiano. Dele faziam parte, entre outros, Alberto Ablanedo e Dolfu R. Fernández. E tocaram, cantaram e encantaram todo o nosso grupo. Outras vivências, numa festa de alegria
Ruta de Las Xanas, Sto Adriano / Pedroveya, 10.04.2000
e juventude, uma outra forma de aprender e de viver a cultura. É claro que, tratando-se de alunos, a sidra foi devidamente "racionada" ...J; e, pouco depois da meia noite, estávamos a regressar ao Albergue, em San Martín de Teverga.
No dia seguinte tínhamos a primeira caminhada. Logo o nome levantava uma aura de misticismo: Ruta de Las Xanas. As xanas são ninfas da mitologia asturiana, de rara beleza, que habitam as nascentes e as torrentes de água. De longos cabelos ruivos e olhos claros, penteiam-se com belos pentes de oiro ... e, nuas, encantam os rapazes jovens das aldeias, a quem prometem tesouros e encantos! Mais uma vez, tratando-se de uma caminhada que eu não conhecia, a nossa guia Margarita, do Albergue de Teverga, acompanhou-nos no autocarro até Villanueva de Sto Adriano - portanto repetindo o curso do Trubia - e guiou-nos ao longo daquela espectacular ruta. Trata-se de uma caminhada curta - apenas cerca de 4 km - subindo ao
A Ruta de Las Xanas no Wikiloc / Google Earth, 10.04.2000
longo de um espectacular desfiladeiro escavado pelo rio das Xanas. Entre densa vegetação, a parte final termina num extenso prado que prenuncia a capela de San Antonio e a aldeia de Pedroveya, já no concelho de Quirós, no caminho percorrido no século XIX por San Melchor. E, em Pedroveya, o Albergue de Teverga e a nossa guia Margarita tinham reservado para nós um típico almoço camponês, na Casa Generosa ... de que havíamos de ficar "clientes"...J!
Depois do almoço ... havia que regressar ao vale de Sto Adriano, descendo de novo os 4 km da ruta de las Xanas. Regressados também a Teverga, houve ainda lugar a uma visita guiada à Colegiata de San Pedro. Já no Albergue, na sequência de um dia chuvoso ... seguir-se-ia uma espécie de lotaria, com as botas de quase todos em roleta russa, na máquina de secar roupa! Era a despedida dos valles del oso...
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