A 30 de Julho de 2007, os Caminheiros Gaspar Correia partiam pela segunda vez para uma actividade de verão nas Astúrias. Como referido no post anterior, apanhei o autocarro em Vilar Formoso, mesmo na fronteira, vindo de Vale de Espinho. Dois anos antes, quando pela primeira vez levei a "família" caminheira a Somiedo ... ficou logo prometida uma 2ª versão... J! Assim, logo no dia 31 fizemos a travessia do Puerto de Somiedo até Pola, pelo Alto del Moñón, Braña de Sousas, La Enramada e Coto de Buenamadre ... a travessia feita um ano antes, a dois, quando estávamos na Casa Buenamadre.
Subida da Collada Putracón, Somiedo, 31.07.2007
Subida da Collada Putracón, Somiedo, 31.07.2007
Subida para Los Michos, 31.07.2007 ...
e na "pedra do beijo... J
Descendo dos Michos para Valle de Lago, 31.07.2007
As duas primeiras noites desta "aventura" Caminheira ficámos em Pola de Somiedo. E se a nossa estadia na Casa Buenamadre, em 2006, nos tinha tornado amigos da Rosalía Álvarez ... esta estadia com os Caminheiros tornou-nos amigos do Herminio Cano e da Luz Gómez, proprietário e gerentes do Hotel Casa Miño, do Restaurante Cano e de diversos apartamentos na capital somedana. Havíamos de lá voltar várias vezes... J!
Consultando o GPS ... e vamos partir, 1.08.2007
No primeiro dia de Agosto, foi a vez da fabulosa travessia de La Peral a Villar de Vildas, pela Collada de La Enfistiella e a Pornacal, no vale do Pigueña. A parte inicial desta segunda caminhada foi desenhada com base nas cartas e no Google Earth; a partir da Collada Enfistiella ... repetiu a minha caminhada solitária de Agosto de 2004.
O vale do Pigueña, visto de La Enfistiella, 1.08.2007
Cameraman em acção, no vale do Pigueña
E de Villar de Vildas mudámo-nos para os valles del oso. O Albergue El Sabil, em Villanueva de Santo Adriano, em plena Senda del Oso, foi o nosso poiso para todos os dias seguintes ... que incluíram um dia de visita à capital das Astúrias, Oviedo, no dia 2 de Agosto.
"aventura" para a RTV Asturias
Oviedo, 2.08 - Entrevista sobre a nossa
Depois, dia 3, nova caminhada, de novo baseada no que tinha feito em 2006: de Bermiego passámos aos Puertos de Andruxas, descendo depois para La Rebollada e Pedroveya ... e a Ruta de Las Xanas, terminando
... e nos Puertos de
Andruxas, 3.08.2007
quase directamen-te no El Sabil.
Puertos de Andruxas, entre Bermiego e La Rebollada, 3.08.2007
Ruta de Las Xanas, 3.08
Dia 4 foi um dia espe-
cial: em Fresnedo, Teverga, visitámos a Cueva Huerta e o Parque de La Prehistoria, verdadeiras jóias da Natureza e da ancestralidade asturianas. Também nesse dia, uns repetiram e outros fizeram pela primeira vez o percurso ciclista da Senda del Oso ... que desta vez incluiu a visita às famosas ursas Paca e Tola, no cercado próximo de Proasa ... e incluiu também um belo banho nas águas do Trubia. Nesse mesmo dia, à noite, os Caminheiros tinham uma surpresa: à semelhança de 2005, eu havia-lhes preparado uma "noite celta", com um espectáculo de folk asturiana, em que participou o próprio gerente do Albergue.
Parque de La Prehistoria, Teverga, 4.08
Cueva Huerta, Fresnedo, 4.08
Noite celta no "El Sabil", 4.08.2007
Dia 5 de Agosto esperava-nos uma pequena "aventura": a travessia dos Puertos de Agüeria, entre Llindes e Ricabo, em terras de Quirós, paredes meias com as alturas das Ubiñas. A área pertence ao então recente Parque Natural Las Ubiñas, o maciço que prolonga para sudeste as alturas da Mesa e de Somiedo. Aquele seria, como veio a ser, um percurso novo também para mim, que não conhecia. Por isso, apesar do recurso ao GPS e às cartas não me oferecer qualquer dúvida, a responsabilidade de acompanhar cerca de meia centena de pessoas ditou-me a decisão prévia de contratar um guia. Acontece que em vez de um ... apareceu um casal de guias ... que pareciam ter sido gaseados com algum produto estranho ... que se perderam durante a caminhada ... e que, com o GPS e as cartas ... levámos a bom porto... J! A caminhada, essa sim foi espectacular, através de paisagens de sonho, acompanhando em grande parte os Huertos del Diablo, os espigões rochosos que assinalam as duas Peñas Ubiñas.
Três imagens no trilho dos Puertos de Agüeria, com os
Huertos del Diablo como pano de fundo, 5.08.2007
No oitavo e último dia, 6 de Agosto ... regressávamos a casa.
Com uma passagem por Vale de Espinho tanto à ida como à vinda, os últimos 10 dias de Julho de 2006 foram no paraíso dos valles del oso e de Somiedo, desta vez em versão de alojamento rural, só a dois.
Entre Aciera e Bermiego, Sierra del Aramo, 24.07.2006
A primeira parte foi em terras de Quirós, com uma "aventura" pedestre de 22 km no dia 24, pelos Puertos de Andruxas, na Sierra del Aramo. Da pequena aldeia de Aciera, onde estávamos alojados, passámos a Bermiego e ao seu teixo milenar, subimos às Andruxas e à Braña Buxana, voltámos a descer para La Rebollada e Pedroveya, esta última já nossa conhecida, já que ali iniciámos (pela 3ª vez...) a descida da Ruta de Las Xanas.
Bermiego: a Sierra del Aramo por entre a ramagem, 24.07.2006
Dois dias depois estávamos em Somiedo. Mas desta vez optámos por uma excelente casa de turismo rural em Coto de Buenamadre, logo acima de Pola de Somiedo. Ganhámos uma amiga na respectiva proprietária, Rosalía Garrido Álvarez. Tudo ali respi-ra o seu "mundo rural, afición, pasión, VIDA", tal como incluiu no título do blogue onde expressa a sua paixão pelas terras e tradições somedanas. Passámos a visitá-la cada vez que vamos a Somiedo.
E a Casa Buenamadre foi a base para a descoberta de algumas das mais espectaculares panorâmicas de Somiedo. Um estudo prévio tinha-me levado a delinear um percurso circular que totalizaria mais de 30 km de montanha. A forma de o "partir" em dois ... seria deixar o carro por uma noite no Puerto de Somiedo; foi o que fizemos. E assim, dia 28, os horizontes abriram-se para a espectacular travessia Puerto de Somiedo - Alto del Moñón - Braña de Sousas - La Enramada - Coto. Que dia extraordinário e que extraordinária travessia! A paixão por Somiedo aumentava a cada caminhada ... e é claro que logo surgiu a ideia de ali levar segunda vez a minha "família" Caminheira!
Collada Putracón, 28.07.2006
Descida do Alto del Moñón para Sousas, 28.07.2006
No dia seguinte ... era preciso ir buscar o carro. A minha "sócia" ficou na Casa Buenamadre ... e eu saí pouco depois das 6h:30 da manhã, sozinho, pronto para fechar o idealizado percurso circular ... agora quase sempre a subir. Pelo Pico El Miro, cheguei às Brañas de Mumian e, depois, à Peña de Gúa. A Rosalía havia-me falado de um velho e incerto caminho que atravessava o bosque da Enramada, ligando Mumian à Braña de Sousas, de onde faria o retrocesso da véspera até ao Puerto de Somiedo.
Sobre Coto de Buenamadre e o bosque La Enramada, 29.07.2006
Não sei se efectivamente esse velho caminho ainda existia ou não; não o encontrei. Mas a alternativa foi espectacular, por um lado porque na procura desse caminho cheguei a um fantástico "miradouro" sobre a Enramada e todo o vale do rio del Lago, com Coto de Buenamadre aos meus pés (foto acima), e, por outro lado, porque o percurso me permitiu subir à Peña Salgada (1979m alt.), depois de passar as Brañas de Valdecuelabre, onde, como em tantos outros lugares "perdidos" ... as vacas "falavam" comigo.
Peña Salgada (1979m alt.), 29.07.2006
Ao chegar à Peña Salgada ... não estava sozinho. Vim
a encontrar ali um outro companheiro solitário, amante da Natureza e de Somiedo, vindo de Gijón ... e que me afirmou que todos os fins de semana vai caminhar para Somiedo! Estivesse eu lá mais perto...
E descendo de Peña Salgada estava já em terreno atravessado na véspera. Pela Collada Putracón e Machada Ordial, cheguei ao Puerto de Somiedo. O carro lá estava, tinha dormido uma noite na serra... J.
Praderas de Cebolleo, Sierra de la Mortera, Babia, 31.07.2006
Dois dias depois, no último dia de Julho, estávamos a deixar Somiedo de carro ... para voltar a Somiedo a pé. Somiedo confina com Babia, a zona montanhosa do norte leonês. Despedindo-nos da Rosalía, fomos fazer a última caminhada e a última noite na original casa de turismo rural El Rincón de Babia, próximo de La Cueta, a aldeia leonesa mais próxima de Somiedo. Subindo o Alto Sil, rumávamos à Sierra de la Mortera, paredes meias com a bacia glaciária do Lago del Valle. Transposto o Collado de la Paredina ... estava de novo em Somiedo, a descer para a Braña de Murias Llongas.
Braña de Murias Llongas, Somiedo, 31.07.2006
Morteras e Torre de Orniz, do Pico Cuetalbo (2074m alt.)
Com um transporte de cada lado, a ligação La Cueta - Valle de Lago seria fácil, por Murias Llongas; um dia...! Na falta de transporte de cada lado, havia que regressar a Leão. Mas esta jornada ainda me levaria ao Pico Cuetalbo, acima dos 2000 metros de altitude, à vista da imponente Torre de Orniz e das Morteras do Lago del Valle. Depois, descendo o jovem rio Sil, regressámos a La Cueta de Babia ... e estávamos no fim de mais uma jornada por terras do paraíso.
Na tarde do primeiro dia de Agosto ... estávamos em Vale de Espinho.
Em Julho de 2005, eu estava nos Caminheiros Gaspar Correia há já quase 3 anos ... e não se tinha proporcionado ainda levá-los a nenhuma das minhas "terras natais"! Já tinha estado no Gerês com eles, mas não por minha orientação. A Vale de Espinho e às terras da raia, já várias vezes tinha feito a proposta, mas, sendo uma actividade de vários dias, não tinha ainda sido "eleita" para o calendário do Grupo. Assim, acabou por ser mais fácil que Somiedo fosse a primeira das "minhas" terras a dar a conhecer à minha "família" Caminheira, numa actividade extra, de verão. 6 dias, de 23 a 28 de Julho.
Tierra de leyendas, de vaqueiros, de osos, de bosques y lagos, de montañas, de buena gente...
No dia 23 de Julho, a já bem conhecida A66 leva-nos até à barragem do rio Luna. Já no final da "etapa", entrámos nas Asturies pelo Puerto Ventana (1586m de altitude), muito justamente também chamado
Sobre Villanueva de S.to Adriano, Ruta de las Xanas, 24.07.2005
a “Ventana del Paraíso”. Logo aí todos se começaram a maravilhar com as magníficas paisagens. Foram quase 800 Km até ao nosso primeiro destino, San Martín de Teverga, que partilha com os concelhos de Quirós, Proaza e Santo Adriano os chamados Valles del Oso (vales do urso), limítrofes com o Parque Natural de Somiedo. As instalações foram as camaratas do meu já conhecido Albergue San Martín, onde havíamos ficado com alunos 5 anos antes. De certo modo ... estava a transpor para os Caminheiros aquilo que havia feito com alunos durante mais de 20 anos!...
Onde levei portanto os Caminheiros, em 2005? Aos mesmos paraísos e às mesmas "aventuras" que tinham maravilhado os alunos! No dia 24 estávamos a fazer a Ruta de Las Xanas, a almoçar na Casa Generosa de Pedroveya, a visitar o Museu Etnográfico de Quirós. E, para grande orgulho meu, os Caminheiros estavam a começar a conhecer e a admirar aquelas paisagens deslumbrantes, a alma daquele povo que ama a terra, a vida, o ar que respira,
Ruta de las Xanas, 24.07.2005
os bosques e as montanhas, de onde saem xanas e nuberus, através dos costumes e das tradições ancestrais, da cultura popular, da música, da gastronomia.
Ruta de las Xanas
O segundo dia nos valles del oso foi para a Senda del Oso, o trilho cilista igualmente feito com os alunos. Os ciclo-caminheiros fizeram cerca de 22 km e os pedestres 16,5 km. No fim, faltava uma bicicleta, quando já todos as tinham entregue.
Barragem de Valdemurio, Rio Trubia, 24.07.2005
Todos? Não! Um nosso amigo tinha passado pelo grupo como um OVNI e continuaria ainda a pedalar, se entretanto não lhe disséssemos que não era para ir até Lisboa de bicicleta...J! Lá vimos o cercado das ursas Paca e Tola, mas a Paca e a Tola estavam à sombra do arvoredo e não nos obsequiaram com a sua presença. E terminámos a tarde na Colegiata de San Pedro de Teverga, onde tivemos a prevista visita guiada ... seguida de uns bons momentos de convívio e degustação da sidra, no bar em frente...J!
Senda del Oso, 25.07.2005
Senda del Oso, 25.07.2005
Dia 26 partimos cedo de Teverga para Somiedo. 13 km depois estávamos no Puerto de San Lorenzo, onde começámos o percurso pedestre do Cordal de la Mesa ... que eu havia percorrido a solo no ano anterior. A dificuldade moderada que eu havia divulgado foi considerada um pouco mais do que moderada, mas toda a gente encheu as vistas e apreciou as espectaculares panorâmicas deste percurso. Em Saliencia, fim do percurso, o bar do Albergue foi também ricamente apreciado, já na companhia do meu "velho amigo" Roberto Menéndez. E às 6 e pouco da tarde estávamos no Hotel “Castillo del Alba” e no Camping “La Pomarada de Somiedo”, em Pola de Somiedo.
Cordal de La Mesa, 26.07.2005
Cordal de La Mesa, 26.07.2005
Braña de La Mesa, 26.07.2005
Veigas de Camayor, 27.07.2005
Dia 27, o grupo dividiu-se em dois: os mais resistentes, partiram comigo para o percurso dos Lagos de Saliencia. Em 2002, o Roberto tinha-me guiado com o grupo de alunos neste percurso. Agora, em 2005 ... guiei eu os Caminheiros, com base também no GPS e no estudo das cartas, com uma derivação em relação ao percurso feito 3 anos antes: em vez dos Picos Albos, para suavizar um pouco o percurso optei pelas Veigas de Camayor, "conquistando" assim o Lago del Valle por noroeste. Às três da tarde estávamos em Valle de Lago (e que bem souberam as cañas e os gins...J), terminando próximo de Villarin. Alguns ligeiros salpicos souberam até bem (e que saudades tínhamos de chuva...), em nada dificultando as extraordinárias panorâmicas daquelas paragens somedanas.
O Vale do Rio del Valle, desde sobre o Lago del Valle, Somiedo
Entretanto, a partir de Villar de Vildas, o grupo mais soft fez o percurso de La Pornacal, guiado pelo Roberto Menéndez, e daí à Braña Vieja, na base do espectacular vale de Cerezales e ao longo do rio Pigueña, um dos principais habitats do urso pardo cantábrico. A braña de la Pornacal é a maior e melhor conservada de Somiedo.
Braña de la Pornacal, vale do Pigueña, 27.07.2005
O sénior do grupo, com o guia Roberto Menéndez, 27.07.2005
A "Taberna Folk" que tinha servido de cenário a uma noite celta, em 2000, com alunos, tinha infelizmente mudado de gerência e deixado de fazer espectáculos. Mas ... eu tinha de arranjar uma noite com música asturiana...J! E pegando precisamente na pesquisa sobre os contactos de um dos membros dos Dubram, que haviam actuado em Santa Marina de Quirós em 2000 ... consegui uma actuação exclusiva do grupo folk asturiano La Bandina'l Tombo, no Camping, em Pola de Somiedo. E assim, a última noite destas "Astúrias 2005" foi de música, alegria ... e baile.
O último dia começou com o percurso à braña vaqueira de La Peral e ao Miradouro Príncipe de Astúrias, sobre o imponente vale de Somiedo. Depois ... foi o adeus às Astúrias e a estas terras de sonho. O regresso foi recheado de discursos emotivos, de histórias e de estórias que ficarão para sempre na história dos Caminheiros e de cada um dos que viveram aqueles dias.
O simbólico ano 2000 chegara. Novos tempos se avizinhavam. No Carnaval, o parque de campismo da Costa da Galé, próximo de Sines, recebeu-nos na caravana por 5 dias, de 4 a 8 de Março. Na escola, as turmas que tinham ido ao Gerês em Março de 99 estavam agora no 11º ano. E ... não havia eu entretanto descoberto a minha terceira "terra natal"? Era obrigatório levar os alunos ao paraíso natural de Somiedo!
Assim, de 8 a 14 de Abril de 2000, com os meus alunos de Ciências e os alunos de Humanísticas do já habitual outro casal de professores destas "andanças" ... passámos uma semana no paraíso.
Na Senda del Oso, circuito ciclista, 9.04.2000
A todos os níveis, esta foi realmente uma semana especial ... ou não fossem Somiedo e os valles del oso do sudoeste asturiano ... um paraíso especial! Com base no Albergue de juventude que tinha descoberto em Teverga no verão de 99, o primeiro destino eram precisamente aqueles vales. Entrámos nas Astúrias na já nossa bem conhecida auto-estrada A66, a autopista del Huerna. Por Pola de Lena e pelo Puerto da Cobertoria ... a sensação de todos era verdadeiramente a de estarmos a entrar num paraíso perdido ... e chuvoso. Aliás estes dias foram muito marcados pela chuva ... e não só, como veremos. Passámos Santa Marina e Bárzana de Quirós, onde voltaríamos no dia seguinte, e com quase 800 km feitos desde Lisboa, chegámos ao Albergue San Martín, em San Martín de Teverga.
Ainda nesse mesmo primeiro dia, à noite, a direcção do Albergue faria uma apresentação das Astúrias e das actividades que íamos realizar nos dois dias seguintes. Não conhecendo eu parte do que íamos fazer,
Senda del Oso e noite folk em Sta Marina de Quirós, 9.04.2000
seria a própria guia do Albergue a acompanhar-nos. E assim, o primeiro dia no paraíso era logo destinado a uma primeira "aventura": o circuito ciclista da "Senda del Oso", numa extensão de quase 30 km. As férias de 1999 tinham-me revelado aquele velho trilho mineiro, excelentemente transformado em trilho pedestre e ciclista. As bicicletas tinham igualmente sido contratadas com o Albergue. E pouco passava das 9 da manhã ... era dada a partida! Os poucos não ciclistas do grupo partiam igualmente, a pé, para um troço mais curto. E assim, ao longo do desfiladeiro de Teverga, ou de Peñas Juntas, por vezes atravessando túneis escavados nas paredes rochosas que ladeiam o rio Trubia, lá fomos avançando na Senda, sem dificuldades, já que o percurso é suavemente descendente em toda a sua extensão. Próximo de Proaza, fizemos uma "visita" às já nessa altura "famosas" ursas Paca e Tola, duas ursas que ficaram orfãs de uma mãe abatida selvaticamente por caçadores furtivos e que foram recolhidas pela Fundación Oso de Asturias. Passaram a viver num cercado ali construído para o efeito, junto à Senda e próximo da Casa del Oso, numa semi-liberdade onde podem ser alimentadas e vigiadas ... e servir de símbolos vivos da preservação da espécie na cordilheira cantábrica.
Passada Proaza e Villanueva, a Senda del Oso termina em Tuñón, junto a um urso de pedra que assinala a reconversão da linha mineira. Aí invertemos portanto o sentido, regressando a Villanueva, onde o autocarro nos recolheu, reunificando-se o grupo ... e onde almoçámos. Este almoço e o regresso a Teverga ficaram assinalados por um episódio "histórico"...! Eu e um aluno tínhamos capas de chuva iguais. Ao almoço, tendo parado a chuva, obviamente tirámo-las. No regresso a Teverga ... o "pobre" dá por falta da carteira, onde além de todo o dinheiro tinha todos os documentos. "Eu caí da bicicleta naquele sítio", dizia ele; e lá fomos ver se víamos uma carteira caída no local indicado ... mas nada. Triste e inconformado ... regressámos. Eis senão quando eu meto a mão ao bolso da minha capa (ou da que supunha ser minha...) ... e encontro uma carteira que não conhecia e que não era minha!!! Eis a história, portanto ... de
Taberna folk, Sta Marina de Quirós, 9.04.2000
quando um professor "roubou" a carteira a um aluno...J!
Ao final da tarde, seguia-se a visita ao Museu Etnográfico de Quirós, em Bárzana. E que Museu! Que bela preservação e, diria mesmo, que amor ali transparece pela cultura e pelas tradições daqueles vales perdidos no sudoeste do paraíso asturiano! Mas, em terras de Quirós, o dia 9 de Abril iria acabar com horas mágicas, vividas na "Taberna Folk" da pequena aldeia de Santa Marina de Quirós! Quando da preparação desta actividade, encontrei publicidade a esta "Taberna", que realizava pontualmente, para grupos, umas "noites folk". Ora, que melhor forma de conciliar a minha paixão pela música tradicional com uns momentos de divulgação, àqueles alunos, de uma outra vertente das vivências culturais e etnográficas das Astúrias? O que ali vivemos foi portanto uma verdadeira "espicha asturiana", ou seja uma festa que é, ao mesmo tempo, um jantar típico e um concerto ... ao sabor da sidra! O ritual da sidra e a "espicha" fazem parte, sem dúvida, do património cultural asturiano! Da componente musical encarregou-se o grupo Dubram, na altura com alguma relevância no panorama folk asturiano. Dele faziam parte, entre outros, Alberto Ablanedo e Dolfu R. Fernández. E tocaram, cantaram e encantaram todo o nosso grupo. Outras vivências, numa festa de alegria
Ruta de Las Xanas, Sto Adriano / Pedroveya, 10.04.2000
e juventude, uma outra forma de aprender e de viver a cultura. É claro que, tratando-se de alunos, a sidra foi devidamente "racionada" ...J; e, pouco depois da meia noite, estávamos a regressar ao Albergue, em San Martín de Teverga.
No dia seguinte tínhamos a primeira caminhada. Logo o nome levantava uma aura de misticismo: Ruta de Las Xanas. As xanas são ninfas da mitologia asturiana, de rara beleza, que habitam as nascentes e as torrentes de água. De longos cabelos ruivos e olhos claros, penteiam-se com belos pentes de oiro ... e, nuas, encantam os rapazes jovens das aldeias, a quem prometem tesouros e encantos! Mais uma vez, tratando-se de uma caminhada que eu não conhecia, a nossa guia Margarita, do Albergue de Teverga, acompanhou-nos no autocarro até Villanueva de Sto Adriano - portanto repetindo o curso do Trubia - e guiou-nos ao longo daquela espectacular ruta. Trata-se de uma caminhada curta - apenas cerca de 4 km - subindo ao
A Ruta de Las Xanas no Wikiloc / Google Earth, 10.04.2000
longo de um espectacular desfiladeiro escavado pelo rio das Xanas. Entre densa vegetação, a parte final termina num extenso prado que prenuncia a capela de San Antonio e a aldeia de Pedroveya, já no concelho de Quirós, no caminho percorrido no século XIX por San Melchor. E, em Pedroveya, o Albergue de Teverga e a nossa guia Margarita tinham reservado para nós um típico almoço camponês, na Casa Generosa ... de que havíamos de ficar "clientes"...J!
Depois do almoço ... havia que regressar ao vale de Sto Adriano, descendo de novo os 4 km da ruta de las Xanas. Regressados também a Teverga, houve ainda lugar a uma visita guiada à Colegiata de San Pedro. Já no Albergue, na sequência de um dia chuvoso ... seguir-se-ia uma espécie de lotaria, com as botas de quase todos em roleta russa, na máquina de secar roupa! Era a despedida dos valles del oso...