24 de Outubro de 2000. Estamos em Madalena do Pico, preparados para a grande "aventura" da subida à montanha. Pela minha parte, era a segunda vez que a subia ... depois de 4 anos antes o ter feito também com alunos. Agora é o Cláudio Gonçalves, então aluno, a descrevê-la para o Clube "Amigos da Natureza":
"Às 7h45 lá partimos, cheios de ansiedade, rumo ao local onde se ia iniciar a grande aventura da viagem: a escalada ao Pico! Quando chegámos ao sopé do Pico, abandonámos o autocarro, que logo deu meia volta, regressando a Madalena do Pico, e que só nos viria buscar no fim da aventura. Fomos então ao encontro do nosso guia, o Joaquim Nené, que tinha vindo no seu próprio carro. A euforia e a adrenalina eram bastantes, porque o nevoeiro matinal teimava em não levantar, impossibilitando que conseguíssemos um contacto visual com o cimo do Pico, para podermos fazer uma estimativa do percurso que estávamos prestes a iniciar. Terminadas as últimas instruções e trocadas palavras de encorajamento, começámos a nossa escalada por aquilo que se chama um "caminho de cabras". O caminho era escorregadio, pois por entre a terra húmida existiam "paletes" de musgo encharcado pelo orvalho da manhã. Muitos arbustos ladeavam o pequeno trilho, não nos deixando alternativas de percurso. Depois de pouco andarmos, chegámos a umas elevações que pareciam pequenas montanhas e que foram facilmente identificados como cones secundários. Um deles permitia que se entrasse e, lá dentro, lugar onde nem todos foram, sob a protecção de um muro edificado pela mão humana, podia-se apreciar uma grande fenda escura e húmida, com plantas nas suas paredes. A escalada continuou e o caminho foi-se tornando mais íngreme, mas ao mesmo tempo mais livre, porque à medida que subíamos os arbustos iam rareando, deixando-nos a possibilidade de fugir um pouco ao caminho seguido pelo guia e, dentro do possível, sermos como pioneiros, inaugurando um novo trilho para alcançar o topo do Pico."
Foi por esta altura que se deram as primeiras desistências, tal como tinha acontecido 4 anos antes. Mas continuemos a acompanhar a descrição:
"O resto do grupo, agora mais pequeno, prosseguiu a viagem mais apreensivo e consciente do perigo. À medida que subíamos, repetíamos tentativas frustradas de avistar a paisagem encoberta por "resmas" de
"nuvens que, além de não nos deixarem aproveitar a vista panorâmica da ilha, nos banhavam com salpicos quando as atravessávamos. No entanto, por pequenas abertas entre as nuvens, era possível vislumbrar campos cultivados, pedaços da costa onde se notava a zona da rebentação das ondas e alguns pequenos cones como os que tínhamos visto de perto lá em baixo. Aquela não era definitivamente uma simples neblina matinal. Finalmente alcançámos a nossa primeira meta, estávamos a 2280m de altitude, na borda da cratera do Pico. A cratera era enorme, de forma circular, e bastante funda, com cerca de 80m de altura, da qual irrompia o Piquinho, ao qual estávamos destinados a chegar. Perante esta magnificente "miragem", resolvemos parar para almoçar e assim juntar o útil ao agradável, pois ao mesmo tempo que enchíamos a barriga aliviávamos o peso das mochilas.
Como não podia deixar de ser, as nossas fieis perseguidoras (as nuvens) acharam que era também uma altura propícia para aliviar a carga e, para mal dos nossos pecados, começou a chover. Aconchegámo-nos todos na tentativa de nos protegermos daquela chuva persistente, que era tocada pelo vento, mas de nada adiantou. E assim, terminada a refeição, o grupo prosseguiu, deixando mais uma jogadora do nosso “plantel” naquele local, que por si só era prémio suficiente de uma escalada ao Pico, a descansar do percurso já feito e à espera de dar umas boas risadas à custa dos nossos tropeções na última e mais difícil etapa da escalada. Descemos até à cratera por um caminho íngreme e iniciámos a subida ao Piquinho. Esta subida foi muito difícil, porque as pedras estavam soltas e à medida que um subia ia deixando atrás de si uma chuva de calhaus para os outros.
Após muitas escorregadelas, chegámos enfim ao ponto mais alto de Portugal (2351 m de altitude). Olhámos em volta e não pudemos deixar de nos sentir bem e satisfeitos, pois apesar de as nuvens nos impossibilitarem uma panorâmica da ilha, proporcionavam-nos um espectáculo igualmente belo. Tudo abaixo de nós era branco, só com uns farrapos de azul do mar, e, acima de nós, o céu estava limpo e o sol brilhava, despertando arco-íris pela cratera. Depois de muitas fotografias e muitos risos de alegria, voltámos pelo mesmo caminho até ao local onde antes tínhamos estado a almoçar. Pegámos nas mochilas que aí tinham ficado e começámos a grande descida do Pico, que era talvez mais perigosa mas mais divertida, pois o esforço era menor e sempre podíamos dar uma corridinha de vez em quando e uns espalhos engraçados, sempre sem nos afastarmos muito do Nené (o nosso guia), pois o nevoeiro veio para ficar e não nos podíamos perder.
Quando chegámos ao sopé do Pico, o autocarro ainda não tinha chegado. O Nené levou no seu carro alguns de nós que se tinham lesionado e todo o resto do grupo seguiu a pé estrada fora, conversando, contando anedotas e ouvindo histórias que os "profs" tinham para contar. Já nem a chuva que caía nos perturbava, tínhamos conseguido o nosso objectivo. Por fim apareceu o autocarro, entrámos todos molhados como uns pintos e sentámo-nos confortavelmente como nunca tínhamos estado nas últimas horas. Eram então 16h45 e estávamos de volta a Madalena do Pico, cansados mas realizados, por termos conseguido enfrentar um desafio, com a companhia e a ajuda sempre agradavelmente presente dos nossos amigos e dos nossos professores (que também são, sem dúvida, nossos amigos)! Quando regressámos, e após uma banhoca reconfortante no Quartel dos Bombeiros, que ficava mesmo em frente às nossas instalações (porque não se podia tomar banho nos nossos balneários...), seguiu-se o jantar no mesmo restaurante do dia anterior. À entrada do restaurante, a luz não era muita e como não havia nuvens, fomos brindados com um céu no mínimo espectacular! Dava a sensação de que se estendêssemos um pouco mais o braço poderíamos tocar nas estrelas, porque elas estavam ali para nós!!
Como era a nossa última noite naquela ilha, os professores permitiram uma pequena escapadela às horas, ou seja, fomos divertir-nos para um barzinho junto ao mar, onde dançámos, rimos, brincámos... Chegámos aos nossos confortáveis aposentos e quando chegou a hora do recolher, as melgas voltaram ao ataque, o calor também (porque para não entrarem mais melgas “kamikazes”, fecharam-se as janelas, o que tornou o ambiente mais abafado), e, claro, o nosso lindo “coro” privativo!! Até houve pessoas que preferiram ir dormir para o átrio do que enfrentar toda aquela cena de filme, com aviadores, climas quentes e banda sonora (?!) !!
25.10 - Quarta-feira. 7h30... hora de despertar, fazer as últimas arrumações e partir rumo a S. Roque, onde tomámos o pequeno-almoço e onde nos esperava o navio “Golfinho Azul”, para uma aventura marítima até à ilha Terceira!
"Às 7h45 lá partimos, cheios de ansiedade, rumo ao local onde se ia iniciar a grande aventura da viagem: a escalada ao Pico! Quando chegámos ao sopé do Pico, abandonámos o autocarro, que logo deu meia volta, regressando a Madalena do Pico, e que só nos viria buscar no fim da aventura. Fomos então ao encontro do nosso guia, o Joaquim Nené, que tinha vindo no seu próprio carro. A euforia e a adrenalina eram bastantes, porque o nevoeiro matinal teimava em não levantar, impossibilitando que conseguíssemos um contacto visual com o cimo do Pico, para podermos fazer uma estimativa do percurso que estávamos prestes a iniciar. Terminadas as últimas instruções e trocadas palavras de encorajamento, começámos a nossa escalada por aquilo que se chama um "caminho de cabras". O caminho era escorregadio, pois por entre a terra húmida existiam "paletes" de musgo encharcado pelo orvalho da manhã. Muitos arbustos ladeavam o pequeno trilho, não nos deixando alternativas de percurso. Depois de pouco andarmos, chegámos a umas elevações que pareciam pequenas montanhas e que foram facilmente identificados como cones secundários. Um deles permitia que se entrasse e, lá dentro, lugar onde nem todos foram, sob a protecção de um muro edificado pela mão humana, podia-se apreciar uma grande fenda escura e húmida, com plantas nas suas paredes. A escalada continuou e o caminho foi-se tornando mais íngreme, mas ao mesmo tempo mais livre, porque à medida que subíamos os arbustos iam rareando, deixando-nos a possibilidade de fugir um pouco ao caminho seguido pelo guia e, dentro do possível, sermos como pioneiros, inaugurando um novo trilho para alcançar o topo do Pico."
Foi por esta altura que se deram as primeiras desistências, tal como tinha acontecido 4 anos antes. Mas continuemos a acompanhar a descrição:
"O resto do grupo, agora mais pequeno, prosseguiu a viagem mais apreensivo e consciente do perigo. À medida que subíamos, repetíamos tentativas frustradas de avistar a paisagem encoberta por "resmas" de
Subida à montanha do Pico, 24.10.2000 |
Como não podia deixar de ser, as nossas fieis perseguidoras (as nuvens) acharam que era também uma altura propícia para aliviar a carga e, para mal dos nossos pecados, começou a chover. Aconchegámo-nos todos na tentativa de nos protegermos daquela chuva persistente, que era tocada pelo vento, mas de nada adiantou. E assim, terminada a refeição, o grupo prosseguiu, deixando mais uma jogadora do nosso “plantel” naquele local, que por si só era prémio suficiente de uma escalada ao Pico, a descansar do percurso já feito e à espera de dar umas boas risadas à custa dos nossos tropeções na última e mais difícil etapa da escalada. Descemos até à cratera por um caminho íngreme e iniciámos a subida ao Piquinho. Esta subida foi muito difícil, porque as pedras estavam soltas e à medida que um subia ia deixando atrás de si uma chuva de calhaus para os outros.
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No Piquinho (2351m alt.), 24.10.2000 |
Quando chegámos ao sopé do Pico, o autocarro ainda não tinha chegado. O Nené levou no seu carro alguns de nós que se tinham lesionado e todo o resto do grupo seguiu a pé estrada fora, conversando, contando anedotas e ouvindo histórias que os "profs" tinham para contar. Já nem a chuva que caía nos perturbava, tínhamos conseguido o nosso objectivo. Por fim apareceu o autocarro, entrámos todos molhados como uns pintos e sentámo-nos confortavelmente como nunca tínhamos estado nas últimas horas. Eram então 16h45 e estávamos de volta a Madalena do Pico, cansados mas realizados, por termos conseguido enfrentar um desafio, com a companhia e a ajuda sempre agradavelmente presente dos nossos amigos e dos nossos professores (que também são, sem dúvida, nossos amigos)! Quando regressámos, e após uma banhoca reconfortante no Quartel dos Bombeiros, que ficava mesmo em frente às nossas instalações (porque não se podia tomar banho nos nossos balneários...), seguiu-se o jantar no mesmo restaurante do dia anterior. À entrada do restaurante, a luz não era muita e como não havia nuvens, fomos brindados com um céu no mínimo espectacular! Dava a sensação de que se estendêssemos um pouco mais o braço poderíamos tocar nas estrelas, porque elas estavam ali para nós!!
Como era a nossa última noite naquela ilha, os professores permitiram uma pequena escapadela às horas, ou seja, fomos divertir-nos para um barzinho junto ao mar, onde dançámos, rimos, brincámos... Chegámos aos nossos confortáveis aposentos e quando chegou a hora do recolher, as melgas voltaram ao ataque, o calor também (porque para não entrarem mais melgas “kamikazes”, fecharam-se as janelas, o que tornou o ambiente mais abafado), e, claro, o nosso lindo “coro” privativo!! Até houve pessoas que preferiram ir dormir para o átrio do que enfrentar toda aquela cena de filme, com aviadores, climas quentes e banda sonora (?!) !!
25.10 - Quarta-feira. 7h30... hora de despertar, fazer as últimas arrumações e partir rumo a S. Roque, onde tomámos o pequeno-almoço e onde nos esperava o navio “Golfinho Azul”, para uma aventura marítima até à ilha Terceira!
6 de Maio de 2011
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