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terça-feira, 24 de outubro de 2000

Açores, ano 2000 (1): S. Miguel e Pico

Em Setembro de 2000, inicia-se um ano lectivo que entrará no novo milénio. E, com ele, os alunos que haviam vivido a semana mágica de Somiedo e dos valles del oso, estavam no 12º ano. Embora apenas com um grupo mais restrito ... os Açores esperavam por nós. Dois professores "batidos" e duas professoras "estreantes" nestas andanças, 17 alunos, 7 das 9 ilhas açoreanas percorridas! Embora S. Jorge e a Graciosa apenas com uma pequena escala, de resto só não fomos a Santa Maria e ao Corvo, a esta última pela simples razão ... de que não cabíamos todos no avião...J
Deixemo-nos levar pelas descrições da Cristiana Franco, então aluna, escritas em Novembro de 2000 para o site do Clube "Amigos da Natureza":

"Aeroporto de Lisboa, 21 de Outubro, 5 horas da manhã. A noite estava estrelada, como que a dar um toque de magia ao começo da viagem, que se esperava inesquecível (no mínimo). Aos poucos, a zona das partidas ia ficando mais composta, com alunos, professores e famílias... Sim, porque os papás, as mamãs, os manos, as manas e até os filhos deslocaram-se ao aeroporto para se despedirem e desejarem boa viagem. (....) A conversa era mais que muita, uns para disfarçar o sono, outros para controlar a ansiedade e outros ainda, para conter o nervosismo da viagem de avião. (....) Finalmente, por volta das 8 horas (hora local), o avião aterrou em terras açoreanas – Aeroporto João Paulo II, Ponta Delgada, ilha de S. Miguel.
Sobre a Lagoa das Sete Cidades, 21.10.2000
Depois da recolha das malas (uff, chegaram todas!), partimos de autocarro a caminho do centro da cidade, mais propriamente da Pousada de Juventude de Ponta Delgada, que nos iria acolher nas 2 noites seguintes. Assim que lá chegámos, colocámos as malas numa sala e partimos à descoberta da ilha. Um dos primeiros sítios visitados foi a famosa Lagoa das Sete Cidades. Primeiro, do alto de uma colina, estávamos novamente sobre as nuvens, com a lagoa aos nossos pés, mas desta vez em chão firme. As fotografias não poderiam faltar, como faltam as palavras para descrever a paisagem... Todos queriam registar cada momento, cada paisagem, cada pormenor... Ficarmos com uma recordação de tudo aquilo, para além das que ficarão para sempre gravadas nos nossos corações!
Bom, após as primeiras impressões, descemos até junto das lagoas... Sim, é verdade que uma é azul e a outra verde... Tentámos encontrar uma explicação lógica, mas a beleza era tão grande que preferimos imaginar, sonhar, inventar explicações sem nexo, mas que fizessem perdurar a magia... Uma magia que só existe nalguns sítios e que só algumas pessoas as conseguem ver! Porquê?! Bem, porque o paraíso é onde nos sentimos bem e abrimos o nosso coração para o que a vida tem de mais puro... Logo, estávamos perante uma paisagem idílica, que fotografávamos com os olhos e tentávamos captar fragmentos da sua beleza numa máquina... O que nós não sabíamos, era que essa sensação se iria repetir por muito mais vezes ao longo daqueles 10 dias... Quando a fome apertou, encontrámos um local simpático e fomos retirando das mochilas os petiscos que as “mamãs” carinhosamente tinham preparado para que os seus meninos se alimentassem bem fora de casa (ou seja, comida a mais!).

Almoço junto às Sete Cidades, 21.10.2000
Em seguida, de novo no autocarro, rumámos a uma praia como nunca tínhamos visto... Água muito azul, alguma ondulação... Até aqui tudo normal... Só que a areia era muito escura, quase preta! Estranho?! Nem por isso! Natural em ilhas vulcânicas, como é o caso de todo o arquipélago. Após esta pequena paragem, seguimos rumo a Ponta Delgada, fazendo ainda outras paragens em pontos mais ou menos emblemáticos, mas sempre deslumbrantes, como por exemplo, falésias arrepiantes onde, se nos abstraíssemos de tudo o resto, parecia que flutuávamos por cima daquela água transparente!
Chegados à Pousada, procedemos à distribuição dos quartos, arrumámos as malas e visitámos a cidade de Ponta Delgada (onde se destacam as famosas Portas da Cidade) (....) Como ainda era cedo (e o sono ainda estava escondido pela excitação do dia), alguns ficaram em frente à Pousada, num muro não muito confortável, mas que se torna um dos melhores sítios do mundo, quando se está em boa companhia, e a conversa surgiu... Uns diziam como tinham gostado do dia, outros já acusavam o cansaço, e outros diziam que iriam ter muitas saudades dos mimos das mães!...

Visita à ilha de S. Miguel, 21 a 23.10.2000

22.10 - Domingo. Por volta das 7 horas, o professor Callixto encarregou-se do nosso despertar (como já é habitual nestas viagens). O dia amanheceu tristonho mas nem isso desanimou o grupo, que já tinha recuperado as forças e estava preparado para mais um dia de descobertas! O pequeno almoço foi tomado na Pousada e em seguida partimos de autocarro para uma visita à parte oriental da ilha de S. Miguel.
A primeira paragem foi num local bastante peculiar... Deparámo-nos com uma cascata e uma pequena lagoa
"(Caldeira Velha)" , só que o cenário era deveras especial porque a água, para além de estar a ferver, apresentava uma coloração acastanhada e um cheiro não muito agradável (devido ao enxofre). A própria terra em redor da lagoa estava quente e em pequenos orifícios podia observar-se lama a borbulhar. Este foi o nosso primeiro contacto com a realidade de que a terra é um sistema vivo, em constante renovação e actividade! Seguidamente, partimos para um local de onde se poderia observar a Lagoa do Fogo... Só que quando lá chegámos, o cenário não era dos mais favoráveis, ou seja, encontrámos um nevoeiro cerrado que não nos permitia ver um palmo à frente dos nossos narizes curiosos!! Daí, um pouco desiludidos, partimos à descoberta de alguns miradouros e das suas vistas impressionantes (é quase indiscritível a beleza das paisagens que vimos... Um misto de verde e azul, com algum casario e uma imensidão de água, que tanto pode parecer um lençol calmo, como uma criança endiabrada!). A visita à vila de Ribeira Grande permitiu-nos ter um contacto mais próximo com os habitantes daquela zona, mas também nos proporcionou estar num local que, no Inverno, quando algumas tempestades assolam aquela área, tudo aquilo fica inundado e destruído.
Depois dessa pequena visita, dirigimo-nos para o vale e caldeiras das Furnas. Aí, e com a Lagoa das Furnas como cenário, observámos a forma como o típico cozido das Furnas é cozinhado, em pleno solo vulcânico. Também aqui o calor era mais que muito e o próprio chão fervilhava, tal a actividade que percorria o subsolo, bem debaixo dos nossos pés. O estômago já acusava a falta de alimento e rumámos à vila das Furnas, onde almoçámos o célebre cozido. Opiniões?! Bem, uns gostaram muito, outros acharam picante, outros nem por isso... Enfim, foi uma experiência nova!
A parte da tarde foi preenchida com a visita a mais alguns miradouros (como o miradouro de Stª. Iria) e a Cascata dos Caldeirões, que nos proporcionou mais uma visão que se ía tornando habitual aos nossos olhos: água translúcida que parecia mergulhar numa imensidão de verde!
Chegados à Pousada, e após algum descanso, a próxima paragem seria nas Instalações Militares de S. Gonçalo, onde o jantar esperava por nós. A noite decorreu de forma semelhante à do dia anterior. (....) no dia seguinte partiríamos para outra ilha...

23.10 - Segunda-feira. 6 horas da manhã... O habitual despertar do professor Callixto (....). Por volta das 7h30 partimos de táxi até ao aeroporto de Ponta Delgada, a fim de embarcarmos rumo à ilha do Pico, o nosso próximo destino. Cerca das 9 horas o avião descolou e uma hora depois aterrámos em Santa Luzia, no aeroporto do Pico. (....) Quando o autocarro finalmente chegou, qual não foi o nosso espanto quando constatámos que a carrinha não tinha porta bagagens!! Resultado: éramos 21, numa carrinha com 19 lugares, o corredor atravancado com malas, bagagens nos bancos e pessoas sentadas em cima... Foi uma aventura!! Primeiro entraram uns quantos para a parte de trás da carrinha, em seguida começaram a entrar malas que iam sendo literalmente atiradas e empurradas umas por cima das outras, e os últimos a entrar tinham que pedir licença às malas!!

Ilha do Pico, 21 a 23.10.2000
Chegados a Madalena do Pico, a aventura continuou! (....) As instalações eram, no mínimo, curiosas... As famosas instalações do Futebol Clube de Madalena do Pico eram constituídas por um edifício de 2 andares, fachada normalíssima, átrio onde começavam as escadas e 2 corredores. No 1º andar ficavam os nossos aposentos que eram, nada mais nada menos, que uma sala, com mesas e cadeiras encostadas às paredes e uma mesa de “snooker” no meio. No rés-do-chão encontravam-se os balneários do Clube que, para se falar com sinceridade, não estavam nas melhores condições... Até aqui tudo bem, mas uma pergunta começava a dominar as nossas mentes: “onde vamos dormir?!” Todos tinham levado sacos-cama, mas não serviam para dormir directamente no chão!! Pois era... Essa foi uma ideia que se alojou em nós durante todo o dia... Tentávamos encontrar soluções minimamente viáveis mas nada... Restou-nos esperar!
Depois de deixarmos as bagagens nas nossas “suites”, dirigimo-nos à Escola Secundária Cardeal Costa Nunes, onde almoçámos na cantina, juntamente com os alunos, que nos olhavam de forma intrigada (ou parecíamos extraterrestres, ou então já éramos famosos!). Findo o almoço, partimos de autocarro para uma visita de volta à ilha do Pico, com passagem por S. Roque (onde existem as antigas instalações para onde se transportavam as baleias pescadas), na costa norte, e Lages, na costa sul, onde se destaca o Museu dos Baleeiros, onde se podem encontrar instrumentos da pesca à baleia, bem como pinturas emblemáticas em ossos de baleia, entre outros.

Objectivo ... a montanha do Pico, 23.10.2000
Após a visita à ilha, regressámos às nossas instalações e demos um pequeno passeio pela Madalena do Pico, uma vila pequenina, mas muito acolhedora. Do seu porto é possível observar-se a ilha do Faial, mesmo em frente e a cidade da Horta que, de barco, dista cerca de 25 minutos do sítio onde nos encontrávamos. Ainda durante este pequeno passeio, compraram-se os almoços para o dia seguinte, que, para a maioria, iria ser passado na montanha. Seguiu-se o jantar num restaurante da vila e uma conversa com o guia de montanha sobre o dia seguinte.
Com todas estas visitas, tínhamo-nos esquecido de algo importante: os colchões!! Eram 22 horas, estávamos quase todos à porta dos nossos aposentos, o professor Callixto já tinha contactado várias pessoas a fim de saber o que se passava... E eis que chega uma carrinha de caixa aberta com as nossas caminhas!! Colchões com cerca de 6 cm de espessura mas que para o nosso cansaço seriam as melhores camas de sempre! Apressámo-nos a transportá-los, arrumámo-los todos juntos uns aos outros, numa ponta da sala, preparámos o almoço para o dia seguinte, apagámos as luzes e caminha (ou melhor, colchãozinho!)! Durante a noite, não se pode dizer que todos tenham dormido muito... As melgas invadiram o salão! Era verem-se braços no ar, cabeças tapadas com os sacos-cama, mãos a perseguir zumbidos... Mas não era só isso... Algumas pessoas tinham um sono um pouco mais sonoro, formando um desafinado coro não muito agradável a ouvidos mais sensíveis, principalmente durante a noite!!

24.10 - Terça-feira. Acordámos por volta das 7 horas e foi nessa altura que se tornaram visíveis os ataques dos nossos inimigos voadores! Todos vermelhos e inchados, tal foi o banquete!! As meninas que não se aventuraram ainda ficaram mais um bocadinho no quentinho, enquanto viam a azáfama de todos os outros, a ultimarem os preparativos.
"

Os preparativos de que fala a Cristiana eram, obviamente, para a grande "aventura" da subida ao Pico do Pico! Pela minha parte, ia subir pela segunda vez à montanha mais alta de Portugal ... ambas as vezes em actividades com alunos...J
5 de Maio de 2011

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