"La llegada'l ñuberu", Xuacu Amieva, "Tiempu de mitos"
Uma terra natal é onde se nasce ... normalmente...J! Também se pode adoptar uma terra natal, quando descobrimos terras que passam a chamar-nos, às quais nos sentimos pertencer, pelas quais nos apaixonamos, quando cada fraga, cada cheiro, cada cor e cada som nos trazem sensações de comunhão, purificação, libertação, catarse. Nos primeiros artigos deste blog, desde logo falei nas minhas três "terras natais". Duas delas descobri-as há quase 4 décadas: a raia Sabugalense, num largo raio à volta da minha
Íamos virar para o paraíso..., 4.08.1997 |
Embora em condições meteorologicamente muito pouco favoráveis, como veremos, mas seriam as férias de 1997 que me iam revelar o paraíso de Somiedo. Depois do Alto Tejo, Douro e Ebro, depois do Canyon de Rio Lobos e do Pico Tres Mares, depois da praia na costa cantábrica, passámos Ribadesella, Arriondas, passámos próximo de Oviedo, e por alturas de San Antolin, junto ao rio Narcea ... a placa de Somiedo chamava finalmente por mim! Passaram-se 14 anos, passaram muitas fragas, mas lembro-me
Estávamos a entrar no paraíso de Somiedo, 4.08.1997 |
Agüerina, Aguasmestas, La Riera, eram nomes que iriam ficar para sempre gravados nas minhas recordações e nas imagens de um paraíso por descobrir. Parámos a caravana num pequenino parque, já no vale do rio Somiedo, que corre para o Pigueña. Lembro-me da emoção que senti, uma emoção que não se explica, sente-se. Algo naquelas terras me disse logo que eu lhes pertencia, que iria lá voltar! E voltei ... oito vezes...
A magia de Somiedo, 4.08.1997 |
Mas o dia 5 de Agosto acordou chuvoso...! No desalento de mal poder sair da caravana, eu sentia contudo o cheiro da erva fresca, da ruralidade daquela aldeia perdida nos confins das montanhas de Somiedo. Eu sabia que o lago estava apenas a uns escassos 6 km, o que já tinha lido falava-me das brañas e dos vaqueiros de alzada, dos Picos Albos ... do muito que por ali tinha a viver e a aprender. Mas a chuva e o nevoeiro continuavam implacáveis ... e os meus companheiros, cara-metade e filhos, apelavam às desvantagens de por ali ficarmos à espera de uma melhoria do tempo incerta ... e à "necessidade" de regressar a tempo dos anos de uma prima...
O "concílio" ordenou portanto um bater em retirada ... com muita pena minha. Ao descer de Valle de Lago de regresso a Pola de Somiedo (quantas vezes iríamos fazer esta estrada nos anos seguintes...), algumas nuvens desvendaram as encostas verdejantes que correm para o rio Somiedo, que iríamos agora subir, em direcção ao Puerto de Somiedo ... deixando as Astúrias para entrar em terras leonesas. Coincidência, providência ou contingência ... ao começar a descer a encosta leonesa as nuvens foram-se afastando, revelando-nos uma igualmente maravilhosa vertente sul daquelas montanhas "mágicas" ... e dando gradualmente lugar a um dia de Sol! A primeira "descoberta" de Somiedo ficaria para sempre ligada aos nevoeiros e às chuvas ... que me "expulsaram" do paraíso. Para trás pareciam ficar os urros dos ursos, o canto do urogalo, a magia daquelas terras, mitos, tradições, música; para trás ficava o chamamento que, naquela tarde, noite e manhã chuvosas, tinha já feito de Somiedo a minha terceira "terra natal"!
"Guedeya roxa'al vientu", Xuacu Amieva, "Tiempu de mitos"
Vale de Somiedo, 5.08.1997 |
La Peral, Somiedo, 5.08.1997 |
Quando descubro a minha terceira "terra natal", 4 e 5.08.1997
13 de Abril de 2011